Maurício de Sousa em: os personagens PCDs da Turma da Mônica

Por Gabriel Viera

Ações de inclusão e acessibilidade são promovidas pelo Instituto Maurício de Sousa

Personagens com deficiência integram as histórias da Turma da Mônica desde 1960. Maurício de Sousa, criador da série de histórias em quadrinhos, compreende a importância da representatividade para as crianças PCD desde os primeiros anos do projeto. Ao longo do tempo, dezenas de campanhas de conscientização chegaram a estas crianças, que, comumente, enfrentam dificuldade para conseguir se enxergar nas produções literárias, cinematográficas e televisivas que consomem. “Todos nós temos amigos com algum tipo de deficiência e convivemos harmônica e dinamicamente”, diz o cartunista para o Vida Mais Livre. “Consequentemente, não poderíamos deixar de apresentar, no universo dos nossos personagens, amiguinhos da turma que também tivessem algum tipo de deficiência”, completa.

Por meio de tirinhas para o jornal Folha da Tarde, o universo da Turma da Mônica teve início em 1959. Inicialmente, contava apenas com Franjinha e seu cãozinho Bidu, mas hoje possui, em sua galeria, cerca de 400 personagens, e dentre eles, alguns dos que possuem algum tipo de deficiência são:

Humberto
FONTE: REPRODUÇÃO: Maurício de Souza Produções.

Humberto: Foi o primeiro personagem com deficiência a ser criado, em 1960. Não se comunica oralmente, mas emitindo sons de “hum”, gestos e expressões faciais, tendo aprendido, com o tempo, Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Humberto é surdo, não deficiência auditivo, como pensam. A diferença entre os termos é dada pelo grau de comprometimento da capacidade auditiva; enquanto os surdos possuem dificuldade em ouvir, as pessoas com deficiência auditiva simplesmente não ouvem. Sua inspiração vem de amigos de infância de Maurício, assim como a maioria dos personagens criados nesta época.

Dorinha
FONTE: REPRODUÇÃO: Maurício de Souza Produções.

Dorinha: A personagem representa uma pessoa com deficiência visual, foi inspirada em Dorina Nowill, importante educadora e ativista da causa dos cegos. É uma fashionista que vive acompanhada por seu cão-guia, Radar, um labrador. Em suas aparições, surpreende a turma ao identificar cada um de seus amigos por meio de cheiros e sons. Sua primeira aparição foi em 2004. A coleção “Dorinha pelo Brasil – Inclusão Sem Barreiras”, lançada em 2022, é uma série de gibis adaptados para o braille e acompanhados por arquivos de áudio com audiodescrição lançada em parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Luca
FONTE: REPRODUÇÃO: Maurício de Souza Produções.

Luca: Possui inspiração em Herbert Vianna, músico da banda brasileira Os Paralamas do Sucesso, e por isto um de seus apelidos, junto a “Da Roda”, é “Paralaminha”. Representa uma criança com deficiência e foi criado em 2006. Desde então, suas aparições são marcadas pelo interesse amoroso oriundo de Mônica e o estabelecimento do fato de que limitações físicas podem não privar cadeirantes de exercitar suas paixões, sendo a dele, esportes.

Tati.
FONTE: REPRODUÇÃO: Maurício de Souza Produções.

Tati: Representa uma criança com Down. Tati faz parte da turma, também, desde 2006, quando foi introduzida em uma edição especial que buscava levantar justamente a questão da inclusão, chamada “Turma da Mônica – Acessibilidade”. A personagem é inspirada em Tathi Heiderich, popular atriz, escritora e ativista da inclusão de pessoas com Down na sociedade. A Síndrome de Down é uma condição genética que resulta no comprometimento cognitivo e características físicas específicas.

André.
FONTE: REPRODUÇÃO: Maurício de Souza Produções.

André: Foi criado em 2003 sob convite da Universidade de Harvard para contribuir com a disseminação de informações sobre o transtorno do espectro autista, TEA. A edição leva o título de “Turma da Mônica – Um Amiguinho Diferente”, e busca estabelecer ao senso comum o fato de que o autismo é uma consequência do comprometimento do neurodesenvolvimento do indivíduo, o que o leva a apresentar comportamentos considerados incomuns e inesperados, uma vez que esta é uma das condições mais mal-compreendidas.

Estes são os personagens PCD regulares do universo narrativo de Maurício de Sousa. Existem, também, outros, com aparições únicas ou esporádicas. Um exemplo é Hamyr, uma criança com mobilidade reduzida e, por isto, se locomove sob o auxílio de muletas. Sua primeira e única aparição foi em “Hamyr, um Garoto Muito Especial”, de 1989, em que o garoto mostra ser, sim, capaz de jogar futebol com os garotos do Bairro do Limoeiro. Também, Edu, criado em 2019 para uma campanha de conscientização da Distrofia Muscular de Duchenne, DMD, doença genética extremamente rara que acomete um a cada 3.500 garotos, segundo a Pfizer, comprometendo músculos ao longo de todo o corpo. Ainda, a mais recente, Sueli, criança com deficiência auditiva, criada especialmente para a 24ª Surdolimpíadas de Verão do Rio Grande do Sul para evidenciar a importância da popularização da Libras em eventos de grande porte.

Embasado no engajamento de Maurício de Sousa com causas sociais em geral, inclusive, a das pessoas com deficiência, em 1997, surge o Instituto Maurício de Sousa, que já agiu em parceria com instituições como a Fundação Dorina Nowill para Cegos, a Sarepta Farmacêutica e a Organização Amigos da Vida para promover a conscientização de milhares de crianças sobre como lidar com pessoas com necessidades especiais.

A Turma da Mônica é, atualmente, exportada para mais de 30 países, em mais de 10 idiomas, tendo atingido a marca de mais de um bilhão de gibis vendidos, segundo o perfil da editora no Twitter. No Brasil, representa 86% das vendas de revistas no mercado, além da adaptação para tantas outras mídias, como cinema, televisão, internet, parques temáticos e produtos diversos. Em 12 de maio de 2011, Maurício de Sousa passou a ocupar a cadeira número 24 da Academia Paulista de Letras, sendo o primeiro cartunista a receber este reconhecimento. Em 2017, fãs criaram um abaixo-assinado, sem sucesso, para que Maurício passasse a ocupar, também, uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, como homenagem ao remanejamento de estruturas que o quadrinista teria estabelecido na literatura infantil.

FONTES:

Compartilhe!