BBB 23 e a autodescrição

Por Catrina Jacynto

Com o início da 23ª edição do Big Brother Brasil, os telespectadores foram surpreendidos com a atitude espontânea dos participantes do reality em descrever a própria aparência a fim de proporcionar ao público com deficiência visual o conhecimento da fisionomia dos mesmos. Muito se comentou sobre esse fato e levantou um debate relevante, sobretudo ao falarmos de inclusão e acessibilidade: por que fazer a audiodescrição?

Para começar, é importante definir que o que os participantes fizeram não foi uma audiodescrição de fato, mas uma autodescrição, ou seja, uma narrativa sobre a própria aparência. Isso, claro, não diminui o mérito do feito, mas é preciso estabelecer que a audiodescrição vai muito além do que uma descrição direta e precisa de paisagens, pessoas e imagens no geral. 

A audiodescrição é uma técnica de transmissão de informação que permite que pessoas com deficiência visual possam ter acesso ao conteúdo audiovisual, tais filmes, programas de televisão, jogos, eventos ao vivo, entre outros. Através da audiodescrição, é possível descrever detalhes visuais, como cenas, ações, expressões faciais e outros elementos relevantes que complementam a narrativa, sem interferir na trilha sonora original. Além do público deficiente visual, a audiodescrição também pode ser útil para pessoas com dificuldades de compreensão visual, como idosos, crianças pequenas, pessoas com dificuldades de concentração e daltônicos.

Os audiodescritores, como são denominados os responsáveis por essa atividade, precisam ter acesso a uma formação adequada que abranja conceitos sobre a deficiência visual, histórico, princípios e teorias da audiodescrição, além de noções de resumo e treinamento prático. É fundamental que eles também assistam a peça, filme ou espetáculo antes de elaborarem a audiodescrição, para ter familiaridade com o tema, personagens, figurino, vocabulário específico, autor e cenários.

Outro fator essencial é a produção de um roteiro para audiodescrição, que inclua todas as informações adicionais que serão inseridas entre os diálogos. No teatro, este roteiro é revisado pelo diretor da peça, que verifica a coesão e fidelidade ao tema e linguagem da obra. As informações devem ser objetivas e isentas de opiniões pessoais do audiodescritor. Este é um trabalho que requer atenção, tempo, dedicação e preparação.

Apesar da autodescrição feita no BBB 23 não corresponder exatamente aos trâmites técnicos da audiodescrição, ela foi muito significativa para trazer visibilidade para o valor da audiodescrição e a acessibilidade. A passos lentos, porém progressivos, a audiodescrição é somada aos mais diversos programas. Quanto maior for o conhecimento da população a respeito dessa tecnologia, maior será a busca pelo uso e oferta desse recurso por parte das instituições, além de viabilizar a naturalização da descrição, por mais que simples, como um ato que impacta diretamente nas impressões que uma pessoa com deficiência têm do mundo à sua volta.

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