Inclusão PcD no humor brasileiro

Humoristas que trazem inclusão PCD para os palcos e telas do país. Por Leonardo Piza Uma das melhores formas de unir os indivíduos de uma sociedade é pelo humor. A todo momento, pessoas são conquistadas por algo que lhes arranca um sorriso sincero ou uma gargalhada espontânea. Seja uma piada, trocadilho, meme, imitação, etc. Atrair, conquistar e divertir é o principal papel exercido pelos profissionais da comédia, sempre criando proximidade com o público em apresentações ou vídeos de humor. No Brasil não seria diferente. Fazer piada de tudo é uma característica única e peculiar do nosso povo, e em matéria de talento e versatilidade, nossos comediantes dão o nome. E é claro que nossos humoristas PcD não ficam para trás. Por isso, separamos uma lista de profissionais do humor que apresentam alguma deficiência para nos inspirar com suas histórias de vida e suas carreiras de sucesso. Gigante Léo: Leonardo Reis, conhecido artisticamente como Gigante Léo, tem displasia diastrófica, um tipo de nanismo. Seus pais não possuem nanismo, porém ambos possuem o gene recessivo, o que explica o nanismo recessivo do filho. Começou no teatro aos 9 anos de idade, apresentando em um grupo de teatro na igreja em que frequentava. Ele começou a ganhar projeção nacional em 2011 ao ser o vencedor da regional Sudeste II e o vice-campeão geral do 1º Campeonato Brasileiro de Stand-up Comedy, promovido pelo festival Risadaria, maior evento do humor da América Latina. Em 2012, foi o campeão do Prêmio Multishow de Humor sendo a nova revelação do canal Multishow. Em seguida, iniciou sua carreira como roteirista, escrevendo seu programa, “O Diário do Gigante”, junto com Ulisses Mattos. Além disso, foi convidado a fazer participações em programas de emissoras como: TV Globo, SBT e Record. Em 2017, protagonizou o filme Altas Expectativas, que conta a história de um treinador de cavalos verticalmente desfavorecido que tenta conquistar a dona de um Jockey Clube do Brasil. Em seus stand-ups, Gigante Léo gosta de voltar seus textos para a reação das pessoas ao ver e interagir com alguém com nanismo nas ruas, sempre de uma forma divertida. Seu foco nunca foi falar sobre dificuldades enfrentadas, muito menos zombar de pessoas que também possuam a deficiência. Trecho do stand-up: “Eu gostaria de dar dois avisos muito importantes: o primeiro deles é que eu não estou de joelhos. […] O segundo aviso é que não precisa ter medo. Eu não vou descer do palco, eu não mordo.” “Todos somos iguais, apenas temos dificuldades diferentes”. – Gigante Léo. Jeffinho: Jefferson Farias, mais conhecido como Jeffinho, é ator e comediante. Ele possui deficiência visual devido a uma atrofia no nervo ótico, que é sequela de uma trombose cerebral que ele teve aos 11 anos de idade. Jeffinho começou na profissão aos 17 anos e chegou a estudar História na UFF, mas acabou se formando em Teatro pela UniverCidade. Em agosto de 2009, ele assistiu um show de stand-up pela primeira vez na vida e se interessou pelo formato. Determinado, pediu para subir no palco e utilizou o material que tinha consigo. Desde então nunca mais parou de se apresentar. Um de seus personagens mais famosos como ator foi o Ceguinho, em “A Praça é Nossa“, no SBT. No final de 2020, aos 30 anos, ele publicou seu livro “Eu decidi enxergar”, que traz histórias inéditas de sua trajetória enquanto artista e curiosidades dos bastidores ao longo de sua primeira década de carreira. Além de ministrar palestras motivacionais, o comediante encena espetáculos de humor por todo o Brasil, como o “Ponto de Vista“. O comediante procura falar sobre as situações engraçadas de seu dia a dia e a “falta de tato” que as pessoas têm ao se dirigir a deficientes visuais. Ele explica ainda que, em seus shows, não tira sarro de deficientes visuais, mas leva na brincadeira o que as pessoas dizem para ele. “As pessoas não vão para o teatro para rir do cego, elas vão para rir delas mesmas. Elas pensam: ‘ih, realmente, quando eu ajudei uma pessoa com deficiência visual eu fiz isso mesmo’” – afirma Jeffinho. Trecho do stand-up: “Eu tava na balada, uma menina me chamou de deficiente ‘audiovisual’. Quer dizer, eu tô sem som e sem imagem, brother.” “Rir é remédio. É defesa e remédio.” – Jefferson Farias. Ceguinho: Geraldo Magela, apelidado carinhosamente pelo público como Ceguinho, é conhecido em todo o Brasil e no exterior por seu humor e criatividade na superação de sua deficiência visual. Nascido em Belo Horizonte, ele vem de uma família composta por oito irmãos, sendo cinco cegos. Todos acometidos por uma doença conhecida como retinose pigmentar, que provoca perda gradativa da visão. Quanto ao Geraldo, teve dificuldade para enxergar já na infância, e o quadro piorou quando tinha aproximadamente 22 anos. Inspirado pelos programas de rádio que ouvia na adolescência, fez locuções em lojas da cidade natal como propagandista anunciando produtos. A carreira artística começou no rádio. Como ouvinte, ganhou um concurso do programa de Aldair Pinto, grande nome do rádio mineiro. Rapidamente Ceguinho ganhou seu próprio programa de rádio por conseguir conquistar o público de forma única e criativa. Trabalhou em diversas emissoras mineiras: Rádio Inconfidência, Rádio Capital, Rádio Itatiaia. Magela viu sua carreira decolar em 1996, quando lançou o show “Ceguinho é a Mãe” no programa Jô Soares Onze Meia, no SBT. O artista permanece atuante na TV, teatro, e também na Internet. E passou a ser bastante requisitado por diversas empresas e municípios para transmitir sua mensagem cativante em palestras show pelo país. Trecho do stand-up: “A maioria como faz pra atravessar o cego? Pega a gente pelo braço, suspende o braço da gente e aperta. Mas aperta com tanta força que dá impressão que eles têm medo da gente fugir. Eu não quero fugir, eu só quero atravessar a rua.” “Você nunca deve parar, pois quem para só anda para trás. Se você não tentar, já estará derrotado antes mesmo de seguir em frente.” – Ceguinho. Pequena Lô: Lorrane Silva, conhecida por toda a internet

Primeiro personagem com síndrome de down da Disney e o valor da representatividade

Por Ana Andrade Lançado em 28 de abril diretamente pelo Disney+, serviço de streaming de um dos estúdios mais famosos do mundo, Peter Pan & Wendy chama atenção para além da história original sendo recontada, trazendo a representatividade que os tempos atuais exigem ao mesmo tempo em que conserta os erros de sua inspiração. Com 15 anos, o ator Noah Matosfky revoluciona ao interpretar o primeiro personagem importante portador de síndrome de down em um filme da Disney. Tendo conseguido o papel em 2021, o garoto marca sua estreia no cinema interpretando Slightly, o líder dos meninos perdidos, grupo que também é liderado por Peter Pan. Em entrevista para o The Sun, o ator contou um pouco sobre sua experiência no live-action: “Tive muitas falas para aprender muito rapidamente, mas foi emocionante e eu gostei muito”. (Cartaz do ator Noah Matifsky para o filme) OUTROS ACRÉSCIMOS AO ELENCO Além da estreia do ator, o filme também conserta um problema vindo de sua origem: A personagem Tiger Lily. Indígena, a personagem e sua tribo foram representados de forma estereotipada em toda a animação, algo inadmissível para a nova obra. David Lowery, roteirista do novo filme, deu uma entrevista para a Entertainment Weekly em 2018 e aproveitou para esclarecer o assunto antes durante a produção: “O filme original do Peter Pan é obviamente muito racista. Isso tem que ser reparado imediatamente.” Outro acréscimo no elenco foi a atriz Yara Shahidi como Tinker Bell. Ao ser anunciada, a atriz norte-americana sofreu ataques racistas pela internet, sendo apoiada por Halle Berry, a intérprete da Ariel em A Pequena Sereia (2023). Após o lançamento, a atuação de Yara foi elogiada por parte do público. A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE A representatividade que esse filme traz, uma das maiores em filmes da Disney, chama a atenção de forma positiva, ainda que de forma tardia. Após anos com histórias apenas de personagens brancos e sem deficiência, a abertura para mais diversidade nas tramas e no elenco vem para representar uma humanidade tão plural como a nossa, mesmo em um filme de fantasia. Afinal, as obras são justamente para crianças, e a alegria delas em se verem na tela deve ser valorizada, e também protegida. Porém, o caminho para que as pessoas entendam a importância e o foco dessa representatividade após anos com um padrão milimetricamente definido ainda é longo, envolvendo muito mais do que o cinema.  Poucas são as alterações feitas em live-actions ou outros tipos de adaptações que não recebem comentários de ódio. Os focos são, principalmente, em mudanças de etnia e sexualidade. Em alguns casos, atores e atrizes são obrigados a limitar comentários em suas publicações, ou então apagar suas próprias redes sociais para que ataques diretos cessem.  As críticas, muitas vezes, são baseadas na versão original da obra. Em Peter Pan & Wendy, por exemplo, ataques racistas foram feitos porque a Tinker Bell, em diversas animações, é branca e loira. No live-action mais recente, porém, sua intérprete é negra. O mesmo acontece em A Pequena Sereia, com estreia programada para 25 de maio de 2023, onde a protagonista é interpretada por Halle Berry, também negra. Em um mundo preconceituoso, mudanças como as citadas também são atos de coragem, principalmente dos atores, alvos dos ataques de ódio, principalmente virtuais. Porém, para as crianças, uma maior representatividade pode lhes mostrar que sim, ela pode ser o que quiser. Desde menino perdido, fada ou até uma sereia. 

Comemorações em Libras incentivam a inclusão de torcedores surdos

Através da Língua Brasileira de Sinais, jogadores celebram os gols marcados e promovem a inclusão social. Por: Thammy Luciano Celebrar um gol feito pelo jogador do seu time do coração em uma partida de futebol é algo inexplicável. E se durante uma comemoração você se sentir parte daquele momento repleto de emoções? Promovendo a inclusão social, o futebol tornou-se uma ferramenta de mudanças que vão além das quatro linhas e passou a ser um espaço que possibilita dar visibilidade à comunidade surda brasileira. As comemorações na Língua Brasileira de Sinais (Libras) têm se popularizado. Em 2019, Gabriel Barbosa, atacante do Flamengo, em Libras, disse após marcar um gol em partida pelo Campeonato Brasileiro: “Hoje tem gol do Gabigol.” Na final da Copa do Brasil, em outubro de 2022, disputada por Flamengo e Corinthians, o atacante Pedro também comemorou o gol que abriu o placar do jogo com uma frase em Libras: “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”, uma passagem bíblica de João 14:6. Foto: (Reprodução/ESPN) Em abril deste ano, Thiago Galhardo, atacante do Fortaleza, marcou contra o Águia Marabá pela Copa do Brasil e também falou na Língua Brasileira de Sinais. Na ocasião, o atleta disse a frase: “Jesus ama você”, a mesma comemoração foi feita por Gabriel Pec, do Vasco, ao marcar contra o Palmeiras no mesmo mês. Em todas as ocasiões, os atletas reforçaram a necessidade de incluir os torcedores surdos e proporcionar a eles as emoções do futebol. Assim, o esporte assume a posição de instrumento de mudanças sociais, incentivando não somente a inclusão das pessoas surdas, mas também abrindo espaço para novas ações voltadas à toda comunidade. Foto: (Mateus Lotif/Fortaleza EC) Libras A Língua Brasileira de Sinais é reconhecida como uma das línguas oficiais do Brasil há 21 anos pela Lei de nº 10.436. Falar em Libras possibilita uma comunicação padronizada, entretanto, é uma língua viva e, por isso, novas expressões estão sempre surgindo. Aprender Libras estimula o desenvolvimento social e emocional da pessoa surda, daqueles que são parte do seu convívio e de todos que desejam falar a Língua Brasileira de Sinais. Além de incluir os torcedores surdos, falar em Libras em um momento onde toda a atenção está voltada ao jogador, permite que o público compreenda a necessidade de refletir sobre as dificuldades enfrentadas cotidianamente pelas pessoas surdas e aprender mais sobre a língua. Referências: https://ge.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/hoje-tem-gol-do-gabigol-apos-problema-com-cartaz-atacante-do-flamengo-usa-libras-para-comemorar.ghtml http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/dia-nacional-da-libras https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/a-lingua-brasileira-de-sinais-como-ferramenta-de-inclusao-social https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2022/04/lei-que-institui-a-lingua-brasileira-de-sinais-completou-20-anos https://www.opovo.com.br/esportes/futebol/times/fortaleza/2023/04/12/galhardo-do-fortaleza-comemora-gol-em-libras-saiba-o-que-ele-disse.html https://www.supervasco.com/noticias/gabriel-pec-comemora-gol-em-libras-video-365396.html https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2022/10/19/entenda-o-que-pedro-disse-em-libras-apos-gol-do-flamengo-contra-corinthians.htm

Governo Federal retoma políticas de assistência à pessoas com deficiência

Por Gabriel Viera Nova composição do Governo Federal retoma políticas de assistência à pessoas com deficiência, medidas contrastam com atitudes tomadas pela gestão anterior. O início do terceiro mandato não-consecutivo de Luís Inácio Lula da Silva (PT), foi marcado por atitudes direcionadas ao asseguramento de direitos para pessoas com deficiência. Na cerimônia de posse, o influenciador Ivan Baron, que possui mobilidade reduzida por consequência de meningite viral, foi um dos oito convidados para passar para o petista a faixa presidencial. Ainda no primeiro dia de legislatura, Lula revogou duas Medidas Provisórias não condizentes com as diretrizes do Estatuto da Pessoa com Deficiência estabelecidas no governo anterior, de Jair Messias Bolsonaro (ex-PL). As atitudes são simples, mas marcam o início de um novo contexto sócio-político para as pessoas com deficiência, que nos últimos quatro anos, tiveram secretarias e normatizações sucateadas em contraposição a mais de uma década de assistência crescente. A primeira MP revogada por Lula foi o de n° 10.177/2019, que reconfigurava o aparelhamento institucional do Conselho Nacional das Pessoas com Deficiência (Conade), dificultando significativamente seu funcionamento. O decreto foi elaborado sem a participação social de pessoas com deficiência e cessou atividades do órgão durante meses. A segunda MP foi a de n° 10.502/2020, que, em plena pandemia, instituiu a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida, que promovia a criação de escolas exclusivas para PCDs e possibilitava a instituições não-acessíveis recusar efetuar a matrícula de estudantes com deficiência, em vez de providenciar mecanismos de inclusão. A Medida entrava em confronto com o Decreto n° 6.094/2007, regulador da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva Inclusiva, que estimula a criação de políticas públicas de atendimento adaptado a esses alunos. Na cerimônia de posse, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, acompanhado por oito civis, representantes de oito dos grupos de diversidade que constituem o Brasil. Dentre eles, estava Ivan Baron, influenciador digital. O jovem conta com quase 500 mil seguidores nas suas redes sociais e produz conteúdo anti-capacitismo, provendo informações, reflexões e discussões sobre acessibilidade, inclusão e direitos das pessoas com deficiência. Ivan possui mobilidade reduzida, pois aos três anos sofreu paralisia cerebral após contrair meningite viral. “Acolher quem é desacreditado e ressignificar o destino que já foi traçado”, dizia escrita na jaqueta do jovem que passou, quando criança, por uma paralisia cerebral resultante da infecção.  Ainda nos primeiros dias do novo governo, o nome de Anna Paula Feminella foi anunciado como o mais novo responsável pela direção da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, SNDPD. Na cerimônia de posse, realizada durante a 131ª Reunião Ordinária do Conselho do Conade, a especialista em educação e inclusão de pessoas com deficiência contou assinou, com Marco Menezes, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, um acordo de parceria com o grupo oriundo da Fiocruz, retomando três dos pilares que mais dificultaram o exercício da cidadania das PCDs na última gestão: inclusão, educação e saúde. Fontes: https://www.terra.com.br/amp/nos/propostas-do-governo-lula-para-a-populacao-com-deficiencia-sao-minimas-e-obvias,095020a2918657226d0047c77036abf0bafj3n73.html https://www1.folha.uol.com.br/amp/educacao/2023/01/ato-de-lula-poe-fim-a-inseguranca-juridica-de-alunos-com-deficiencia-diz-especialista.shtml https://portal.fiocruz.br/noticia/ensp-e-secretaria-nacional-dos-direitos-da-pessoa-com-deficiencia-assinam-acordo-de https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2023/01/24/nao-existe-inclusao-sem-acessibilidade-governo-lula-ainda-derrapa-no-tema.htm?cmpid=copiaecola https://guiadoestudante.abril.com.br/noticia/lula-revoga-decreto-de-bolsonaro-que-segregava-estudantes-com-deficiencia/amp/

PcDs no Mercado de Trabalho e as barreiras persistentes do Capacitismo

Por Helena Simionatto A inclusão e a acessibilidade no mercado de trabalho são temas que ganharam grande destaque nas últimas décadas, impulsionados pela crescente conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência e pela necessidade de promover a diversidade e a equidade nas empresas e na sociedade como um todo.  Com decretos de leis que fundamentalmente garantem os direitos das pessoas com deficiência, é quase impossível ouvir alguém dizer que é contra a inclusão e a acessibilidade, inclusive, as empresas cada vez mais divulgam adotar práticas inclusivas em seus processos seletivos e rotinas de trabalho. Nesse processo, temos alguns marcos de extrema importância, como a Lei de Cotas que, desde 1991, obriga empresas a garantirem a contratação de uma porcentagem de pessoas com deficiência, e da promulgação da Lei Brasileira de Inclusão, que entrou em vigor no ano de 2015 e consolidou uma série de direitos discutidos na Convenção dos Direitos das Pessoas com deficiência, promovido pela ONU.  No entanto, ainda há muito a ser feito para que essas leis sejam de fato aplicadas e para que a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho se torne uma realidade efetiva. Apesar dos avanços conquistados, as estatísticas revelam que essa ideia de inclusão e acessibilidade não reflete exatamente o que ocorre na realidade, apontando para uma persistência de barreiras e preconceitos que dificultam que essas iniciativas sejam colocadas em prática. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2019, mesmo antes do impacto causado pela pandemia COVID-19, o número de pessoas com deficiência formalmente empregadas correspondia a apenas 0,98% dos trabalhadores com carteira assinada, sendo que, segundo o IBGE, pelo menos 25% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Essa discrepância pode ser explicada, em parte, pela falta de regulamentação específica e aplicabilidade das propostas apresentadas pela legislação. Embora os avanços e diretrizes alcançados tenham sido importantes, sua implementação ainda enfrenta muitos desafios e obstáculos, sendo o capacitismo um dos principais deles. Mas o que é o Capacitismo? O capacitismo é uma forma de discriminação ou preconceito contra pessoas com deficiência, que se baseia na crença de que a deficiência é uma condição negativa ou inferior. A suposição de que corpos com deficiência têm menos valor, são menos capazes ou menos inteligentes está atrelada a construções sociais reforçadas há séculos e que limitam a participação plena e igualitária de pessoas com deficiência na sociedade. Essas construções sociais criam barreiras físicas ou de comunicação que dificultam o acesso de pessoas com deficiência a oportunidades culturais, educacionais e profissionais, restringindo-as a atividades consideradas mais fáceis ou menos qualificadas. Essas barreiras podem ser visíveis ou invisíveis, e muitas vezes são perpetuadas pela falta de conhecimento e conscientização sobre as necessidades e habilidades das pessoas com deficiência. Por exemplo, muitas empresas ainda não oferecem adaptações razoáveis para seus funcionários com deficiência, como equipamentos de tecnologia assistiva, intérpretes de língua de sinais ou rampas de acesso. Além disso, muitas vezes há uma falta de representação adequada de pessoas com deficiência na mídia e na cultura popular, reforçando estereótipos negativos e limitantes. O capacitismo também pode se manifestar em atitudes e comportamentos que desconsideram as necessidades e desejos das pessoas com deficiência, como a infantilização, a superproteção ou a negação de sua autonomia. Essas atitudes podem levar a uma falta de respeito pelos direitos das pessoas com deficiência e impedir seu pleno desenvolvimento e participação na sociedade. É importante destacar que o capacitismo não se limita apenas a essas crenças e discriminações explícitas. Podemos pensar “Mas eu não acho que PdDs são inferiores, logo, não sou capacitista”, mas ele também pode se manifestar de outras formas, como por meio de piadas ou da adjetivação das deficiências para uso pejorativos. Muitas vezes, essas expressões são tão comuns e naturalizadas na sociedade que parecem estar desconectados de seus significados originais, mas é fundamental que eles sejam resgatados e reconhecidos, questionar sua origem e o que representam. Para combater o capacitismo, é necessário reconhecer e valorizar a diversidade humana e a contribuição das pessoas com deficiência em todas as áreas da sociedade. Por isso, é fundamental que as pessoas estejam atentas às suas próprias atitudes e comportamentos, ao mesmo tempo, em que as empresas se esforcem para adotar de fato medidas de acessibilidade e adaptação, capacitação e valorização das pessoas com deficiência, ofertando oportunidades de desenvolvimento e progressão na carreira, além da promoção de um ambiente de trabalho acolhedor, respeitoso e livre de preconceitos. O capacitismo é um problema grave e generalizado em muitas sociedades, ao adotarmos essas medidas, estaremos não apenas combatendo esse problema, mas também promovendo a inclusão e a diversidade no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo. Referências https://www.forbes.com/sites/roberthart/2023/03/08/elon-musk-apologizes-after-publicly-mocking-disabled-twitter-employee/?sh=632f62b6455d https://noticias.unb.br/112-extensao-e-comunidade/5957-mesa-redonda-discute-inclusao-de-pessoas-com-deficiencia-no-mercado-de-trabalho-e-na-universidade https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/mercado-de-trabalho-para-pcd/

BBB 23 e a autodescrição

Por Catrina Jacynto Com o início da 23ª edição do Big Brother Brasil, os telespectadores foram surpreendidos com a atitude espontânea dos participantes do reality em descrever a própria aparência a fim de proporcionar ao público com deficiência visual o conhecimento da fisionomia dos mesmos. Muito se comentou sobre esse fato e levantou um debate relevante, sobretudo ao falarmos de inclusão e acessibilidade: por que fazer a audiodescrição? Para começar, é importante definir que o que os participantes fizeram não foi uma audiodescrição de fato, mas uma autodescrição, ou seja, uma narrativa sobre a própria aparência. Isso, claro, não diminui o mérito do feito, mas é preciso estabelecer que a audiodescrição vai muito além do que uma descrição direta e precisa de paisagens, pessoas e imagens no geral.  A audiodescrição é uma técnica de transmissão de informação que permite que pessoas com deficiência visual possam ter acesso ao conteúdo audiovisual, tais filmes, programas de televisão, jogos, eventos ao vivo, entre outros. Através da audiodescrição, é possível descrever detalhes visuais, como cenas, ações, expressões faciais e outros elementos relevantes que complementam a narrativa, sem interferir na trilha sonora original. Além do público deficiente visual, a audiodescrição também pode ser útil para pessoas com dificuldades de compreensão visual, como idosos, crianças pequenas, pessoas com dificuldades de concentração e daltônicos. Os audiodescritores, como são denominados os responsáveis por essa atividade, precisam ter acesso a uma formação adequada que abranja conceitos sobre a deficiência visual, histórico, princípios e teorias da audiodescrição, além de noções de resumo e treinamento prático. É fundamental que eles também assistam a peça, filme ou espetáculo antes de elaborarem a audiodescrição, para ter familiaridade com o tema, personagens, figurino, vocabulário específico, autor e cenários. Outro fator essencial é a produção de um roteiro para audiodescrição, que inclua todas as informações adicionais que serão inseridas entre os diálogos. No teatro, este roteiro é revisado pelo diretor da peça, que verifica a coesão e fidelidade ao tema e linguagem da obra. As informações devem ser objetivas e isentas de opiniões pessoais do audiodescritor. Este é um trabalho que requer atenção, tempo, dedicação e preparação. Apesar da autodescrição feita no BBB 23 não corresponder exatamente aos trâmites técnicos da audiodescrição, ela foi muito significativa para trazer visibilidade para o valor da audiodescrição e a acessibilidade. A passos lentos, porém progressivos, a audiodescrição é somada aos mais diversos programas. Quanto maior for o conhecimento da população a respeito dessa tecnologia, maior será a busca pelo uso e oferta desse recurso por parte das instituições, além de viabilizar a naturalização da descrição, por mais que simples, como um ato que impacta diretamente nas impressões que uma pessoa com deficiência têm do mundo à sua volta. As fontes utilizadas:

Futsal Down: O esporte como ferramenta de inclusão

Por Thammy Luciano A prática da atividade promove a autonomia e o bem-estar de crianças, jovens e adultos. No dia 21 de março, foi celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data tem como propósito recordar e conscientizar todos sobre a luta cotidiana pela equidade dos direitos e a inclusão das pessoas com Síndrome de Down. Visando promover a qualidade de vida e contribuir para desenvolver cada vez mais a autonomia, o esporte tornou-se uma ferramenta de inclusão para crianças, jovens e adultos. Entre tantas atividades, o futsal vem conquistando espaço e tornando-se uma das escolhas favoritas. Dizer que o Brasil é o país do futebol, é uma unanimidade, mas também podemos declarar orgulhosamente que temos a melhor Seleção de Futsal Down do mundo. Há 15 anos, após ter se aposentado dos gramados, o ex-jogador do Corinthians, Cleiton Monteiro, passou a treinar a primeira equipe de futsal para pessoas com síndrome de Down. O time montado em parceria com o Corinthians e a Associação Paradesportiva JR, tornou-se referência no país e deu o pontapé inicial para a popularização do futsal Down. Pouco tempo depois, em 2011, Monteiro assumiu o dever de montar a Seleção Brasileira de Futsal Down, que conquistou seu primeiro título em 2019. Seleção Brasileira de Futsal Down na conquista do bicampeonato mundial. Reprodução: (Foto: Marcos Riboli) Em 2022, a equipe masculina de futsal Down foi bicampeã mundial contra os maiores rivais do Brasil, a Argentina. O torneio que aconteceu em Lima, no Peru, foi conquistado pelos brasileiros com o placar de 5 a 1, concretizando o talento e a qualidade da equipe invicta em cinco jogos. Em entrevista ao Terra, em março de 2022 por Rosana Ferreira, Cleiton Monteiro disse que os atletas com Down passam por treinamentos próximos aos de times profissionais e o cuidado com o grupo é um diferencial. Inclusão A prática do esporte traz inúmeros benefícios para a pessoa com a Síndrome de Down. Além de melhorar a qualidade de vida, o futsal trabalha a coordenação, o desenvolvimento cognitivo, o psicológico, ajudando a aprender a ganhar, perder e lidar com seus sentimentos, e contribui para o bem-estar social, uma vez que estar em grupo leva o atleta a interagir com outras pessoas, aprendendo a trabalhar em equipe. O futsal como ferramenta de inclusão social, de acordo com Claudete de Lima, Coordenadora do Centro Síndrome de Down de Campinas, em entrevista ao Correio Popular em março, é um método eficaz no desenvolvimento de crianças, jovens e adultos. Apesar da promoção da inclusão social através do esporte, o futsal Down enfrenta uma luta diária para manter as atividades e permitir que os atletas de equipes masculinas e femininas continuem em ação e participando de competições. A falta de incentivo e investimento prejudica os times. Embora a Seleção Brasileira de Futsal Down tenha destaque mundial, para participar do campeonato em que conquistou o segundo título foi necessário arrecadar recursos a partir de uma vaquinha virtual, para as passagens aéreas, hospedagem e alimentação dos atletas. Além disso, por não fazer parte do programa paraolímpico, o futsal Down encara dificuldades para receber apoio e ganhar visibilidade. Ainda que a luta pela equidade seja cotidiana, o futsal Down sobrevive e segue firme, criando um legado e compondo uma história de vitórias. O suporte inicial de Cleiton Monteiro e daqueles que acreditaram em seu projeto, foi e é fundamental para que crianças, jovens e adultos com Síndrome de Down sigam praticando esportes e vivenciando novas experiências. Conheça o Futsal Down Equipe de Futsal Down criando em parceria com a Ponte Preta em 2019. Reprodução: (Foto: Marcos Riboli) Ponte Preta S21 O projeto em parceria com a Ponte Preta, equipe de futebol de Campinas, teve início em 2019 e conta com mais de 50 atletas a partir dos 6 anos de idade, nas categorias de futsal masculino e feminino. As atividades são gratuitas e mantidas a partir de trabalho voluntário de profissionais de educação física, pais e amigos. Integrante do FutDown Hortolândia ao lado de Marcos Leonardo em visita ao CT Rei Pelé. Reprodução: (Raul Baretta/ Santos FC). FutDown Hortolândia A equipe mantém atividade na cidade de Hortolândia, São Paulo. O projeto iniciado pela prefeitura da cidade foi criado para promover a inclusão social e atende crianças e jovens de diversas idades. Atletas do Projeto Up ao lado de Maicon durante a visita ao CT Rei Pelé. Reprodução: (Raul Baretta/ Santos FC). Projeto Up/Santos A iniciativa visa promover interações e socializações para pessoas com deficiência através do esporte. O Projeto Up reúne mais de 50 atletas, sendo 20 com Síndrome de Down. Referências:

Streamings e a falta de acessibilidade

Por Ana Andrade The Last of Us, Daisy Jones & The Six e You são três das séries mais populares do momento, cada uma em seu serviço de streaming. Porém, além do sucesso, há outro ponto que as três têm em comum: a falta de acessibilidade. Daisy Jones, série disponível pela Amazon Prime, possui Closed Caption apenas em inglês, assim como a audiodescrição também está disponível apenas no idioma oficial da produção. O mesmo acontece com as outras, originais da HBO Max e Netflix, e o assunto não passou desapercebido pelos espectadores: Impacto na inclusão Segundo o Ministério da Educação, 6,5 milhões de brasileiros apresentam deficiência visual em diversos níveis, enquanto 9 milhões possuem deficiência auditiva. No total, 15,5 milhões de pessoas ao redor do país não têm acesso a conteúdos populares porque não há como compreender o conteúdo da forma como é disponibilizado. Com a opção de legenda e com os diálogos e sons da própria série, o máximo seria possível um entendimento parcial, mas não o total. Embora a legenda ajude com a compreensão do conteúdo visto, a diferença dela para o Closed Caption é justamente o que falta para o entendimento completo: Na legendagem, não é mostrado o nome de quem está falando, nem sons ao redor dos personagens. No Closed Caption, isso já é entregue ao usuário. Um dos poucos serviços que disponibiliza o serviço de Closed Caption em português é a Globoplay, com o processo feito pela Showcase em novelas e séries, como Travessia e Rensga Hits. Libras Libras também é um serviço muito pouco disponibilizado por empresas de streaming. Embora personagens que utilizem a linguagem de sinais estejam aumentando em produções audiovisuais e apareçam em séries como The Last of Us, Dahmer e Gavião Arqueiro, essa mesma linguagem não é disponibilizada para o público que a utiliza na vida real. Embora a representatividade seja muito importante para todos nós, ganharia ainda mais valor se acompanhada de ações que incluam as pessoas com deficiência, além de mostrar sua existência e vida diária, mesmo que não seja obrigatório por lei. A janela de libras, atualmente, não é disponibilizada em quase nenhum dos produtos disponibilizados pelos principais serviços de streaming, embora no Brasil, dos 2,7 milhões de deficientes auditivos, 2 milhões se comuniquem pela língua. A Netflix, porém, lançou em 2020 sua primeira série narrada tanto em português como em libras: Crisálida. Produzida pela Universidade Federal de Santa Catarina, foi desenvolvida como filme em 2014 por Alessandra da Rosa Pinho, aluna da faculdade, e em 2019 se tornou série, mostrando os dilemas e o dia a dia das pessoas que convivem com a surdez. Em 2022, sua segunda temporada foi confirmada e a produção está sendo filmada. E o que a lei diz? Desde 2011, a audiodescrição passou a ser obrigatória na televisão brasileira em 20 horas semanais entre 6h e 20h, enquanto o Closed Caption é exigido durante 20 horas diárias desde 2015. Porém, há mais um projeto que pode alterar o modo como a acessibilidade é entregue para o público dos serviços de streaming: o PL 246/2022. Criado pela Senadora Mara Gabrilli (PSD), o Projeto de Lei prevê a obrigatoriedade de acessibilidade aos streamings. Ou seja, as plataformas não terão mais a opção excludente de lançar conteúdos que nem todos têm a possibilidade de assistir da mesma forma, entendendo completamente o que está sendo exposto. Porém, a proposta está em tramitação no Congresso Nacional desde sua publicação, em 14 de fevereiro de 2022, com atualização em 21 de dezembro de que continuava em tramitação segundo Regimento Interno. Não há mais nenhuma informação sobre a situação do PL. Um futuro esperançoso Com o PL em tramitação e a população na época digital e mais interessada no social, a caminhada para uma inclusão cada vez maior começa a se tornar menor. Resta para nós esperarmos que o trajeto se torne mais rápido do que foi até então e, assim, o futuro seja acessível para todos. Bibliografia 1 – https://www.abert.org.br/web/notmenu/mais-espaco-para-legenda-oculta-na-tv-vale-a-partir-do-dia-28.html 2 – https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/151732  3 – https://upi.ufv.br/informativo/netflix-exibe-1a-serie-em-libras-produzida-pela-ufsc/#:~:text=A%20nova%20s%C3%A9rie%20brasileira%20do,a%20l%C3%ADngua%20brasileira%20de%20sinais. 4 – https://www.hypeness.com.br/2020/05/netflix-exibe-1a-serie-realizada-com-lingua-brasileira-de-sinais/

Carnaval Para Todos: Inclusão e Acessibilidade na Festa Mais Popular do Brasil

Fotografia de foliões no carnaval

Por Helena Simionatto O carnaval sempre foi, naturalmente, uma das festas mais aguardadas do ano no Brasil, e após as restrições devido à pandemia de COVID-19 impedirem as comemorações nos últimos dois anos, o evento se tornou ainda mais aguardado no ano de 2023. A empolgação contagiante das milhões de pessoas que saem às ruas para festejar, dançar e se divertir cria uma atmosfera única de alegria e celebração, que é marca registrada dos brasileiros pelo mundo todo. No entanto, nem todos têm a mesma oportunidade de participar plenamente dessa festa, isso devido à falta de acessibilidade e inclusão social que ainda ocorrem na maioria dos lugares, se tornando barreiras para pessoas com deficiência, idosos, crianças e outros grupos, que acabam sendo excluídos ou negligenciados durante as festividades. A inclusão é um tema importante e necessário em todas as áreas da sociedade, e não pode ser diferente no carnaval. É fundamental que o tema seja não só discutido, mas exercido, e que todos os envolvidos na organização dos eventos, desde os órgãos públicos até os blocos de rua, estejam atentos à necessidade de garantir a participação de todas as pessoas. Segundo o censo do IBGE chegam a 24% da população do país o número de pessoas com algum tipo de deficiência e, para elas, as principais barreiras encontradas nas comemorações de carnaval são: Falta de acessibilidade Muitas ruas e avenidas onde ocorrem os desfiles não são adequadas para pessoas que usam cadeira de rodas, por exemplo. Para garantir a inclusão dessas pessoas, é preciso que a infraestrutura do carnaval seja adaptada, com rampas de acesso, banheiros adaptados e transporte acessível. Sensibilidade a estímulos Outra questão importante é a inclusão de pessoas com autismo ou outras sensibilidades. O barulho excessivo do som pode ser um problema para essas pessoas, que muitas vezes se sentem desconfortáveis ou até mesmo ameaçadas em meio à multidão. É importante que haja áreas com som mais baixo, ou até mesmo sem som, para que essas pessoas aproveitem o carnaval com mais conforto e segurança. Comunicação verbal Durante o carnaval, muitas informações são transmitidas por meio de música, dança e comunicação verbal, o que pode dificultar o entendimento para quem não ouve. A presença de intérpretes de Libras torna o evento mais acessível e inclusivo, permitindo que as pessoas com deficiência auditiva possam acompanhar as apresentações, entender as informações e interagir com os demais foliões. A festa é de todos Para que todas essas medidas funcionem é importante que os foliões também façam a sua parte, respeitando as diferenças e ajudando a promover um ambiente de inclusão e respeito. Todos têm o direito de se divertir no carnaval, e é fundamental que esse direito seja garantido a todas as pessoas, independentemente de suas características pessoais. Apesar de todos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência, também é importante destacar as iniciativas e oportunidades que tornaram as festas ainda mais alegres e acessíveis para todos neste ano: Blocos de rua Nesse ano, a inclusão e a acessibilidade foram destaques no carnaval de diferentes partes do Brasil. A festa contou com diversos blocos ao redor do país, que buscam promover a igualdade e destacam a importância da presença de pessoas com deficiência em todos os ambientes. Nos desfiles, além da disponibilização de banheiros adaptados, intérpretes de Libras e audiodescrição, os foliões com deficiência e seus acompanhantes ainda puderam contar com rampas de acessibilidade e áreas livres de obstáculos, pensados para garantir a circulação de pessoas com cadeiras de roda ou com mobilidade reduzida. As inscrições para garantir um lugar nesses espaços foram gratuitas. Em algumas cidades, essas iniciativas fizeram parte do projeto Carnaval Para Todos. Carnaval Online Através do projeto Samba Com as Mãos, o canal SMPEP SP no YouTube, disponibilizou os samba-enredos das escolas de samba e, esse ano, pela primeira vez, realizou transmissões com audiodescrição dos desfiles em tempo real. Os defiles também foram transmitidos através do serviço de streaming Globoplay, que também conta com ferramentas de acessibilidade. A inclusão social é um desafio constante em todas as áreas da sociedade, e o carnaval pode ser uma oportunidade para promover a diversidade e a inclusão. Com algumas medidas simples, como adaptar a infraestrutura e conscientizar os participantes, é possível garantir que todas as pessoas possam aproveitar essa festa tão importante para a cultura brasileira. Todos podemos fazer o possível para tornar os eventos futuros cada vez mais inclusivos e acolhedores para todos! Referências: https://equalweb.com.br/carnaval-a-festa-do-povo-e-acessivel-para-todos/ https://diariopcd.com.br/2023/02/17/carnaval-inclusivo-permite-que-pessoas-com-deficiencia-caiam-na-folia-por-todo-o-pais/ https://observatorio3setor.org.br/noticias/carnaval-inclusivo-confira-blocos-de-rua-e-desfiles-gratuitos-para-pcds/ https://jornalistainclusivo.com/carnaval-acessivel-de-sp-sambas-enredo-em-libras-e-audiodescricao-ao-vivo/ https://www.sonoticiaboa.com.br/2023/02/17/1a-vez-carnaval-bloco-rua-rj-espaco-acessivel-pcd https://jornaldamanhamarilia.com.br/caderno-2/noticia/97943/2023/02/15/bloquinhos-do-carna-marilia-2023-contarao-com-camarote-inclusivo-e-tradutores-de-libras http://youtube.com/@smpedsp

Inclusão na educação e as atuais alterações políticas

Por: Catrina Jacynto Logo após o empossamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi revogado o Decreto nº 10.502/2020 do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, o qual originalmente alterou as regras para acesso à educação especial, prejudicando o atendimento a estudantes com deficiência. Tal ato não apenas foi um reflexo da transição política, como também representou a reconquista de uma série de direitos que são previstos em lei para a acessibilidade desse grupo. Para compreender a dimensão da relevância que a revogação teve, é preciso conhecer não só a gama de benefícios que isso proporciona, como também o que a criação do decreto em si representou para a sociedade. Ressalta-se, primeiramente, que o aspecto educacional é apenas um dos pilares em que se pode debater a inclusão, mas, por ser a base de formação, não é à toa que ganhe centralidade quando o tema é abordado. A inclusão na sala de aula com recursos e profissionais capacitados é crucial para o desenvolvimento e formação de crianças com deficiência. Além de garantir o acesso à educação, a inclusão promove a interação social, o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, e a formação de valores como tolerância, respeito e compreensão da diversidade. Não obstante, o desempenho das crianças com deficiência também é aumentado quando elas estão em um ambiente escolar inclusivo. Pensando nisso, o Instituto Alana, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, reuniu em um e-book gratuito diversas pesquisas nacionais e internacionais que comprovam como esse sistema de ensino beneficia os estudantes com deficiência, assim como os alunos sem deficiência. Ele pode ser acessado no seguinte endereço: https://bit.ly/ebook_instituto_alana. No quesito legislativo, a inclusão de pessoas com deficiência na rede de ensino brasileira é regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que estabelece que todas as escolas devem ser acessíveis e garantir a inclusão dessas pessoas. Além disso, a meta 4 do Plano Nacional de Educação determina que o estado deve garantir que a população entre 4 e 17 anos com necessidades especiais, incluindo deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação, tenham acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, priorizando a rede regular de ensino e garantindo uma educação inclusiva com salas de recursos multifuncionais, classes especializadas, escolas ou serviços especializados, sejam públicos ou conveniados. Vê-se, então, que a inclusão não é meramente uma opção a ser oferecida, mas sim um dever que o Estado e as instituições têm que cumprir. Graças às atualizações na legislação, observou-se um aumento significativo na adesão de crianças e jovens com deficiência nas escolas regulares. Segundo o portal do Ministério da Educação e pesquisas do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 1998, aproximadamente 200.000 crianças que necessitavam de educação especial estavam matriculadas em classes regulares de ensino básico. Já em 2014, esse número subiu para quase 700.000 crianças, distribuídas em 80% das 145.000 escolas brasileiras. Em 2017, o número de alunos na educação especial foi mais de um milhão e, no ano seguinte, alcançou 1,18 milhões, um crescimento de quase 11% em apenas 12 meses. Mais de 992.000 desses alunos estudam em escolas públicas regulares. “A inclusão não é um ato que se limita às diretrizes de uma escola, mas sim que irradia por todas as ramificações sociais, pois é no ambiente de aprendizagem que se consolidam valores humanos essenciais para a vida em comunidade.“ É evidente, por conseguinte, o quanto o decreto retratou um enorme retrocesso nos direitos já conquistados, o que, por sua vez, justifica a boa notícia que foi a sua revogação. A inclusão não é um ato que se limita às diretrizes de uma escola, mas sim que irradia por todas as ramificações sociais, pois é no ambiente de aprendizagem que se consolidam valores humanos essenciais para a vida em comunidade. A exclusão não é a solução para garantir um ambiente adequado ao desenvolvimento da criança com deficiência, mas sim apenas uma forma de mascarar e ocultar as deficiências como se estas pudessem gerar um potencial atraso nos demais colegas em sala de aula – a justificativa mais utilizada para o isolamento. É, em poucas palavras, uma atitude que simplesmente reflete o preconceito de quem não quer enxergar no outro os mesmos direitos e qualidades de si mesmo. Referências bibliográficas: https://novaescola.org.br/conteudo/3000/pne-meta-4 https://lizeseusamigos.org.br/noticias/detalhe/5/pessoas-com-deficiencia-no-brasil-o-que-os-dados-oficiais-nos-dizem#:~:text=Em%202020%2C%20segundo%20o%20Censo,mesmas%20turmas%20dos%20demais%20alunos http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/74371-cresce-a-cada-ano-o-numero-de-criancas-atendidas-pela-educacao-especial-no-brasil https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/cresce-20-o-numero-de-alunos-com-deficiencia-matriculados-na-educacao-basica/ https://alana.org.br/wp-content/uploads/2016/11/Os_Beneficios_da_Ed_Inclusiva_final.pdf https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/01/02/suspenso-pelo-stf-decreto-de-bolsonaro-que-instituiu-politica-de-educacao-especial-e-revogado-por-lula.ghtml