Quando a inclusão, por meio do K-POP, se une à cultura sul-coreana

Por Sofia Wu A Coreia do Sul vem destacando-se internacionalmente no cenário do entretenimento. Mais especificamente, nos segmentos dos chamados “doramas” coreanos e da música pop coreana, popularmente conhecida como K-POP. O Brasil, por exemplo, mostrou-se um grande agente propagador da cultura desse país asiático, convertendo cada vez mais fãs. No mundo, a nação brasileira ficou em terceira posição e em primeira nas Américas, como o local onde constatou-se maior aumento na audiência dos dramas coreanos, de acordo com dados do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo, coletados em pesquisa realizada pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional, divulgados em 2021 pelo portal de notícias O Povo. Já em relação ao K-POP, o Brasil representa o 5º maior mercado de streaming do gênero musical, que cresce a média de 47% a cada ano, segundo dados do Spotify divulgados em 2020 pela Terra. Conhecido por suas batidas únicas, letras inspiradoras, vocais poderosos e coreografias inovadoras, o K-POP aterrissa em terras tropicais para comprovar que o estilo musical é capaz de ultrapassar fronteiras e por que não colaborar ainda para a construção de um mundo mais inclusivo para todos? Permission to Dance – BTS Em nove de julho de 2021, o grupo masculino BTS, também conhecido como Bangtan Boys, com a proposta de incentivar a dança e o desejo de um futuro melhor, lançou Permission to Dance (em português, “Permissão para Dançar”). Na coreografia da música, os sete integrantes utilizam a língua de sinais internacional, Gestuno, usada em eventos, como competições internacionais e convenções, e cujo propósito é universalizar a Língua de Sinais. No refrão da composição, os sinais realizados pelo hepteto foram os de “Diversão”, “Dança(r)” e “Paz”. Missing You – BtoB Em 16 de outubro de 2017, o grupo masculino BtoB, acrônimo de Born to Beat, lançou a música-título Missing You (em português, “Sentindo sua Falta”) de seu segundo álbum de estúdio, Brother Act. No YouTube, a composição conta com legendas disponíveis em 62 línguas. À coreografia, os sete membros, na época, incorporaram a Língua de Sinais Coreana, a KSL, de modo que os sinais fossem vistos como parte da música, fluindo suavemente à melodia e ao ritmo da canção. Portanto os trechos “sinto sua falta”, “passa” e “ano” podem ser apreciados em Língua Coreana de Sinais. O lançamento de Missing You repercutiu, tornando-se notícia, depois que uma pessoa surda, não fã de K-POP, agradeceu a inclusão da Língua de Sinais na coreografia. Em 11 de novembro do mesmo ano, o grupo disponibilizou a versão da música, dessa vez, inteiramente em KSL. I Quit – CL Em dez de dezembro de 2019, a artista solo Lee Chae-rin, popularmente conhecida pelo nome artístico CL, lançou I Quit (em português, “Eu Desisto”) de seu álbum In The Name of Love. A rapper, por meio da música, transmite a mensagem de como aprender a encerrar ciclos da vida para o seu próprio bem, enquanto seus dançarinos, no vídeo oficial de I Quit, interpretam, do início até o fim, a música em Língua de Sinais. Ademais, o MV (o mesmo que “clipe”) ainda conta com legendas disponíveis em 16 línguas. CL – +안해(I QUIT)180327+ (Official Video) ESPECIAL Na seção de comentários, a usuária JustBeYourself 2016 deixou uma mensagem. No depoimento, postado há dois anos, ela disse: “Eu não poderia explicar o sentimento que estou sentindo agora. Como uma pessoa surda (com dificuldades para ouvir), eu tenho ouvido e ´me misturado` com K-POP e a cultura coreana desde o final de 2015. De todos os videoclipes que assisti, este é o meu primeiro [videoclipe] que tem meu idioma nele. Eu sou muito grata por ver pessoas surdas sinalizando a música da CL!! Meu coração está realmente cheio agora, porque está completo com este vídeo! Obrigada, CL, por mostrar ao mundo nossa Cultura Surda e nossa linda *ASL! <3” *de American Sign Language, ASL é a Língua Americana de Sinais. Sunshine Day – Luna Para a sua última apresentação no Immortal Songs 2, programa de competição musical da televisão sul-coreana, no qual era convidada fixa, Park Sun-young, mais conhecida por seu nome artístico Luna, performou a música Sunshine Day (em português, “Dia de Sol”), do cantor sul-coreano Song Dae-kwan, em Língua de Sinais. A interpretação em sinais da canção ocorreu após um fã surdo da artista lhe contar, por meio de uma carta, que apesar de não ouvir, ele ainda estimava as suas apresentações. Starry Night – MAMAMOO Em sete de março de 2018, o grupo feminino MAMAMOO lançou a faixa principal Starry Night (em português, “Noite Estrelada”) de seu sétimo álbum, Yellow Flower. Na coreografia da canção, enquanto cantam o refrão, “Noite Estrelada”, as quatro integrantes sinalizam “As estrelas estão brilhando” em Língua de Sinais, atribuindo ainda mais significado à música. Ademais, essa não foi a primeira vez que o MAMAMOO demonstrou o desejo de proporcionar inclusão para seus fãs: • Em 2016, um vídeo de Wheein, uma das integrantes do grupo, usando a Língua de Sinais para comunicar-se com uma fã surda em um fanmeeting, repercutiu positivamente, com usuários e fãs tecendo elogios à integrante e ao grupo. • O lightstick do quarteto, denominado de “Moomoobong” (junção do nome do fandom, “MooMoo”, com bastão em coreano, “Bong”) possui, como uma de suas funcionalidades, o modo de vibração, desenhado especialmente para os fãs com deficiências. Por meio desse recurso, o usuário toma conhecimento do momento certo de quando pode utilizar o bastão de luz para, juntamente com os outros fãs, apoiar o grupo nos shows e performances em televisão. • A iniciativa de incluir legendas em coreano na plataforma de lives da Coreia do Sul, V Live, também chamada de “V App”, frequentemente usada por artistas de K-POP para comunicarem-se com seus fãs, atribui-se, sobretudo, ao MAMAMOO após o grupo e a empresa responsável pelo quarteto, a RBW Entertainment, ficarem sabendo, por meio do comentário de uma fã surda, das dificuldades que eles enfrentam ao assistirem as transmissões. THANKS – Seventeen Em cinco de fevereiro de 2018, o grupo masculino Seventeen lançou a música-título
A comunidade surda na indústria cinematográfica

Por Pietra Inoue Já há algum tempo temos visto maior representatividade na indústria cinematográfica. Mais atores neurodivergentes, com diferentes tipos de deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, têm ganhado espaço no mundo dos filmes e séries, trazendo com eles uma bagagem de conhecimento grande sobre essas comunidades . Dia 08 de fevereiro, o Oscar, grande premiação da indústria cinematográfica, divulgou a lista dos indicados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, e, entre eles, está Troy Kotsur, indicado na categoria “Melhor ator coadjuvante” pelo seu papel em “No Ritmo do Coração”. Troy Kotsur é um ator surdo estadunidense, e, é também, o primeiro artista surdo a ser indicado para o prêmio na sua respectiva categoria. Ainda sobre a representação da comunidade surda em grandes premiações, temos Marlee Matlin, uma atriz também estadunidense, surda desde os seus 18 meses. Marlee é membra da Associação Nacional dos Surdos, e foi vencedora do Oscar de “Melhor Atriz” em 1987, pelo seu protagonismo no filme “Children of a Lesser God”, ela foi a primeira e única atriz a atingir tal feito. São pequenos avanços como esses, começando na escalação de atores com deficiências, que leva essas minorias até patamares mais altos, onde eles não deveriam batalhar para estar, como, por exemplo, indicações em premiações tão famosas, que, com toda certeza, abrirão cada vez mais portas para essas pessoas realizarem os seus mais profundos sonhos.
A relação e o contato que pessoas surdas têm com a música

Por Giovanna Morales Assim como uma pessoa ouvinte pode “sentir a música”, uma pessoa surda também pode. Isso acontece através das vibrações que atravessam os nervos dentro dos ouvidos internos e o cérebro recebe esses sinais nervosos como som. Surdos, pela sua condição, não podem interpretar as ondas sonoras, logo, eles não compreendem o que é dito, qual som foi emitido, o ritmo, mas conseguem sentir a vibração daquele som, principalmente se for no tom grave. Com isso, é possível que uma pessoa surda ouça música, toque instrumentos e até pratique alguma dança pelas vibrações. É evidente que não se pode entender a letra de uma música, mas sentir a música e o tom dela através das vibrações é possível. E não há nada mais prazeroso do que poder sentir a música. Uma amiga surda de 15 anos, que ouve apenas parcialmente, relatou como é sua relação com a música: “eu escuto normal, eu não tenho a parte baixa da minha audição, então, se a pessoa falar super baixo comigo, eu não vou ouvir, o mesmo acontece com a música”. Julia é apaixonada por música pop e deu como exemplo a música “Happier Than Ever” da Cantora estadunidense Billie Eilish, que tem a característica de cantar de uma forma mais suave, com a voz mais baixa: “a primeira parte dessa música eu não escuto absolutamente nada. Mesmo com fones, é difícil para mim”. Em pesquisa, pude observar diversos trabalhos, projetos e pesquisas que visam o aprendizado de surdos através da dança. Isso é possível e nos tira o estereótipo de que o surdo não pode ter contato com nada que tenha relação com música. A dança é muito visual e corporal, assim como Língua de Sinais, por isso, surdos com sua capacidade aguçada de expressão corporal e visão, aprendem com facilidade a dançar e sentir a música. Sendo assim, surdos podem dançar qualquer tipo de música podendo sentir a vibração dela e coordenar seu corpo de acordo com ela. É preciso de uma atenção específica e a didática correta para isso, mas também é realizável a utilização de instrumentos musicais como os de percussão e de sopro, surdos conseguem aprender a tocá-los normalmente. São informações que possuem pouco alcance e pouco interesse ao grande público, existem muitos mitos e preconceitos em torno de qualquer tipo de deficiência. Deve-se sempre ter em mente que qualquer pessoa com qualquer tipo de deficiência é completamente capaz e possui potencial para praticar e viver experiências que pessoas sem deficiência também vivem.
Acessibilidade e BBB

Por Gabrielle Machado Reality shows, os queridinhos da televisão mundial, começaram a fazer sucesso no começo dos anos 2000 e hoje atrai milhões de visualizações nas maiores plataformas de streaming. Com seus programas ao vivo, provas e barracos, a falta de acessibilidade nesse gênero televisivo tem começado a gerar debates ao longo da internet. Quando falamos de inclusão, falamos no ato de incluir, acrescentar, adicionar coisas ou pessoas em núcleos que antes não faziam parte, como por exemplo esportes paraolímpicos, audiodescrição, closed caption. No BBB 21, tiveram duas situações que trouxeram à tona tal debate: a torção do tornozelo do participante Caio e o deslocamento de ombro de outro participante, o Arthur. Ambos os participantes foram impossibilitados de participar de certas provas devido a seus ferimentos e, no caso de Caio, nem acesso a uma cadeira na hora do banho lhe foi permitido no começo. No entanto, não é só dentro da casa mais vigiada do Brasil que sentimos a falta de inclusão, mas também fora dela ao não ter disponível audiodescrição para telespectadores com deficiência visual e falta de closed caption no Pay Per View e Globoplay. Isso faz com que muitos PCDs (Pessoas Com Deficiência) acompanhem o programa pelas redes sociais, principalmente pelo Twitter e Telegram. No podcast “BBB e Pessoas com Deficiência”, de RodaCast, o tetraplégico Dôdi comenta sobre como seria uma casa adaptada para PCDs sobre as interações e quebra de tabus tão presentes em nossa sociedade. Dôdi ainda comenta que a inclusão e acessibilidade é um direito, então por que não usamos isso em um dos programas de maior visibilidade atualmente? Por mais que ainda exista um longo caminho pela frente, no programa do dia 1º de fevereiro de 2022, um apresentador falou pela primeira vez em Libras com uma participante. Esse marco histórico ficará para sempre na memória daqueles que, pela primeira vez, puderam assistir ao vivo um programa do BBB.