Setembro em cores: visibilidade à inclusão social das pessoas com deficiência e à Cultura Surda

Por Yasmim Verdadeiro Augusto Entre as diversas cores que colorem o mês de setembro e visam conscientizar a população sobre diversas mazelas sociais, as cores azul e verde são as mais marcantes para as pessoas com deficiência, visto que dão maior visibilidade à Comunidade Surda Brasileira e à inclusão social de pessoas com deficiência. E como essas iniciativas surgiram e como ganharam a dimensão que têm hoje? Setembro Azul O Setembro Azul é o mês que promove visibilidade à Comunidade Surda Brasileira, realizando uma homenagem a essa população e uma conscientização da sociedade em relação a essa comunidade. E como essa iniciativa deu seus primeiros passos? O Setembro Azul surgiu a partir da luta da Comunidade Surda por seus direitos. Tudo começou em 2009, quando o Conselho Nacional de Educação, no parecer n°13/2009, determinou a obrigatoriedade das escolas comuns de ensino regular aceitarem matrículas de pessoas com deficiência através da oferta de atendimento educacional especializado para esses alunos. Em consequência disso, em 2011, o Ministério da Educação (MEC) declarou que o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) e o Instituto Benjamin Constant seriam fechados, o que implicaria que as crianças que frequentavam as escolas para alunos com deficiência deveriam ser matriculadas em escolas comuns, de modo a terem atendimento educacional especializado como complementar à sua educação, não mais como a base do processo. Revoltados com a declaração, em maio de 2011, foi organizada uma manifestação nacional, em Brasília, em defesa das escolas bilíngues para surdos, em uma luta por um ensino gratuito que utilizasse a Libras como primeira língua e língua de instrução. Como resultado da manifestação, o MEC revogou sua declaração, além de que as Comunidades Surdas de outros estados aderiram ao movimento e, a partir dessa organização, surgiu o Setembro Azul.  Mas por que o mês de setembro foi escolhido se o movimento ocorreu em maio? É porque, no mês de setembro, existem diversos marcos históricos e culturais na Comunidade Surda. Dentre esses marcos, temos: E, por fim, porque o mês é adornado com a cor azul?  Essa cor se relaciona com a Comunidade Surda desde a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas obrigavam as pessoas com deficiência a utilizarem uma faixa azul no braço para marcá-las como inferiores. Essas pessoas, então, eram encaminhadas a instituições na Alemanha e Áustria, onde eram executadas pelo programa denominado “T4” ou “Eutanásia” (que foi responsável pela morte de cerca de 20 mil pessoas com deficiência durante os anos da guerra).  Esse símbolo de opressão voltou a ser usado pela Comunidade Surda em 1999, mas agora como um símbolo do orgulho de ser surdo e fazer parte dessa população, que superou diversas dificuldades ao longo da história. Nesse mesmo ano, o Dr. Paddy Ladd, membro da Comunidade Surda, usou essa faixa como símbolo do movimento na Cerimônia da Fita Azul, realizada no XII Congresso Mundial de Surdos da Federação Mundial de Surdos, na Austrália. Setembro Verde O Setembro Verde Inclusivo busca dar visibilidade e estimular a inclusão social de pessoas com deficiência, além de denunciar essa falta de inclusão. O movimento busca conscientizar a sociedade civil e os governantes acerca da importância da inclusão social, realizando um chamamento para que as barreiras sociais sejam superadas através do cumprimento da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei n°13.146 aprovada pelo Congresso Nacional em 2015.  Essa luta ocorre no mês de setembro em decorrência do Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, que é comemorado no dia 21 de setembro (resultado da conquista de movimentos sociais de 1982). Essa celebração, por sua vez, ocorre nesta data devido a sua proximidade com a primavera e por ser também o Dia da Árvore, de modo a enfatizar que uma sociedade acessível e inclusiva tem que ser sustentável em todos os aspectos.  E por que o verde? Essa cor foi escolhida para representar o conceito de florescimento e frutificação dos direitos como um processo de consolidação destes.  Ademais, buscando ser uma estratégia de promoção de uma grande campanha que possa destacar, num contexto maior, cada uma das ações que serão realizadas no período, durante todo o mês de setembro as Associações de Pais e Amigos Excepcionais (APAE) de todo o país realizam palestras, convenções e debates sobre a inclusão social.  Em vista de todo esse contexto, é possível perceber que tanto o Setembro Azul quanto o Setembro Verde buscam trazer visibilidade para a Comunidade Surda e para as pessoas com deficiência em geral. Entretanto, essas práticas de inclusão não devem se limitar ao mês de setembro; por outro lado, devem ser uma prática diária, um reflexo do nosso engajamento ativo e constante na luta por respeito e inclusão a essa população.  Referência das informações:

As sete identidades surdas

Por Sofia Wu Um dos estudos do polímata – alguém que analisa mais de um objeto do conhecimento – italiano, Girolamo Cardano, que viveu no século XVI, nos anos 1501 a 1576, foi a surdez. Em suma, por meio de seus trabalhos nesta área, Cardano reconheceu que os surdos, apesar de não escutarem, tinham habilidades para a razão e a lógica, uma vez que, na época, a ideia contrária era a mais discutida. Hoje, depois de passados cinco séculos, essa ideia é ainda bastante clara e atual, visto que, cada vez mais, vemos surdos vivendo uma vida normal em sociedade, o que não tem nada de errado. A Profa. Dra. Gladis Perlin, que também estuda o tema da surdez, e é uma das mais reconhecidas especialistas brasileiras nesta área, propõe que existem sete tipos de identidades surdas. Vamos ver cada uma delas? Identidades surdas ou políticas Devido à Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS, os surdos com a identidade surda ou política optam por estar junto a outros surdos e, assim, estabelecer uma convivência entre si. São indivíduos que não aceitam ser oralizados, bem como não têm interesse no método. Consequentemente, são surdos que frequentam associações, que veem-se inseridos na comunidade surda e que consomem conteúdos audiovisuais que tenham intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC). Identidades surdas híbridas Em virtude de algum problema de saúde, que tiveram em algum estágio de sua vida, como Rubéola – sobretudo nos três primeiros meses da gestação – Meningite, Otites, Caxumba – sobretudo nos três primeiros meses da gestação – e hereditariedade, os surdos com a identidade surda híbrida são indivíduos que nasceram ouvintes e tiveram a perda auditiva. A partir disto, eles começam a aprender a Língua Brasileira de Sinais e vão adentrando, progressivamente, na comunidade surda. Passam a frequentar associações e a utilizar serviços como os que oferecem os intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC). Identidades surdas flutuantes Por serem surdos oralizados e saberem falar e escrever, os indivíduos com a identidade surda flutuante não têm contato com a cultura surda, não interagem com outros surdos e não participam da comunidade surda. Ao invés disto, optam por adotar uma identidade ouvinte e estar com pessoas ouvintes dentro da mesma comunidade. Como consequência, não usam serviços de intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC). Identidades surdas embaçadas Infelizmente, por falta de orientação, que deveria ter vindo da família, os indivíduos com a identidade surda embaçada são surdos que não aprenderam a Língua Portuguesa nem a Língua Brasileira de Sinais, o que torna a comunicação um obstáculo para eles; tanto com ouvintes quanto com surdos. Na falta do português e da LIBRAS, eles acabam comunicando-se em mímicas. São pessoas surdas que não estão inseridas em nenhuma das comunidades. Resultando, assim, em dificuldades, que o indivíduo passa a enfrentar, ao tentar entrar em contato com a surdez na sociedade. Identidades surdas de transição Aqui, ocorrem várias mudanças ao longo do processo. Os indivíduos com a identidade surda de transição cresceram sendo integrantes da comunidade ouvinte, eles são oralizados. Até que, em determinado momento da vida, conhecem a comunidade surda e veem seus membros sinalizando por meio da LIBRAS, e sentem-se interessados em pertencer àquele grupo. Permanecem um tempo ali, mas não deixam o oralismo para trás por completo. Identidades surdas de diáspora Assim como existem diferenças entre as línguas que utilizam a fala, a Língua de Sinais também não é a mesma que a de outras regiões, outros estados ou/e outros países. Os indivíduos com a identidade surda de diáspora são surdos que costumam deslocar-se de outros lugares do mundo, do país e/ou de um grupo surdo a outro, estabelecendo, assim, contato com surdos de outras origens e que comunicam-se com uma Língua de Sinais que é distinta da sua, adquirindo, desta forma, maior bagagem cultural para seu repertório. Identidades intermediárias Os indivíduos com a identidade intermediária são surdos oralizados, que falam e escutam bem a Língua Portuguesa, e podem pertencer tanto na comunidade ouvinte quanto na comunidade surda, pois também sabem sinalizar com a Língua Brasileira de Sinais. Dependendo da maneira que desejarem, eles não consomem conteúdos audiovisuais que possuem intérpretes/tradutores de LIBRAS nem Closed Caption (CC). Independente de qual identidade e cultura um surdo possa identificar-se, o respeito e a empatia continuam sendo as palavras-chave para que possamos construir uma sociedade mais inclusiva e acessível para todos. Entretanto, o senso de mudança deve partir de dentro de nós, para impactar, posteriormente, a vida em comunidade como um todo de modo positivo. Sofia wu, 2021 Referências Bibliográficas • SURDEZ, Pesquisas sobre. Gladis Perlin. Disponível em: https://sites.google.com/site/pesquisassobresurdez/gladis-perlin. Acesso em: 01 set. 2021. • NEVES, Flávia. Uma breve história dos surdos no Brasil e no mundo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jc9X1i9zy3o. Acesso em: 01 set. 2021. • STROBEL, Karin. História da educação de surdos. Disponível em: https://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEducacaoDeSurdos/assets/258/TextoBase_HistoriaEducacaoSurdos.pdf. Acesso em: 01 set. 2021. • EIJI, Hugo. Surdez na Idade Média / Moderna. Disponível em: https://culturasurda.net/idade-media-moderna/. Acesso em: 01 set. 2021. • SURDOS, Povo de. 7 tipos de identidade surda (ativar legendas) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2QN3ZksowD4. Acesso em: 01 set. 2021. • OLIVEIRA, Vinícius. Aulas 4 e 5 – Prática: Os parâmetros, Adjetivos e verbos em Libras. Teoria: Mitos e verdades sobre a Libras e comunidade, 2021. 94 slides. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1gHnHAsloSqspLyIdJmFDvi1U8uQc1z2S/view. Acesso em: 01 set. 2021. • SANTANA, Araceli Catieli Ferreira de. A Importância da Comunidade Surda, Identidade Surda e a Cultura Surda. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD1_SA11_ID3508_29062020120959.pdf. Acesso em: 01 set. 2021. • PERLIN, Gladis. As diferentes identidades surdas. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/04/diferentes-identidades-surdas.pdf. Acesso em: 01 set. 2021.

O desempenho do Brasil nas Paraolimpíadas e o pouco reconhecimento que ele recebe

Por Pietra Inoue Atualmente estão sendo sediados em Tóquio os Jogos Paralímpicos de 2020. O evento acontece logo em seguida às Olimpíadas, mas o contraste de audiência entre ambos é gritante, ainda mais se levada em consideração a, também gritante, diferença no desempenho do Brasil nos dois eventos. As Olimpíadas de 2020 foram assunto recorrente em todos os jornais, blogs e redes sociais durante sua duração. Eram constantes os comentários e discussões sobre os jogos, e, principalmente, o desempenho do nosso país em cada modalidade. Comemorações e alegria permeavam os ambientes com a vitória, e sentimentos de tristeza e frustração nos atingiam com cada derrota. Com o fim dos Jogos Olímpicos, tiveram início as Paraolimpíadas, com a mesma proposta das Olimpíadas, porém voltada para atletas com deficiências físicas, mentais ou intelectuais. Entretanto, os jogos sendo disputados hoje não recebem metade da empolgação e visibilidade que os anteriores receberam, o que é irônico, considerando que o Brasil está com uma colocação quase duas vezes melhor do que teve nas Olimpíadas. Nos Jogos Olímpicos o Brasil ficou em 12º lugar, com um total de 21 medalhas. 8 de bronze, 6 de prata e 7 de ouro. Já nos Paralímpicos, com disputas ainda acontecendo, o Brasil está em 7º lugar, com 44 medalhas, sendo elas 19 de bronze, 11 de prata e 14 de ouro. Mesmo com um desempenho claramente mais eficiente nas Paraolimpíadas, essas não têm o reconhecimento que merecem. É fato que atletas se sentem consideravelmente mais motivados ao saberem que têm pessoas torcendo por eles, sejam elas amigos, familiares ou conhecidos. Agora, imagine o impacto que seria para eles estarem recebendo carinho de um país inteiro.  Quanto mais afeto e empolgação mostramos para com as pessoas, mais elas se sentem motivadas a fazerem o seu melhor e nos trazer orgulho e alegria. Então, pensando nesse caso, se já temos uma posição suficientemente boa agora, pense em como poderíamos melhorar, simplesmente demonstrando nosso interesse nos jogos, dessa vez, com atletas diferentes, mas com a mesma enorme força de vontade e energia para trazer mais essa felicidade para o nosso país.