As sete identidades surdas

Por Sofia Wu

Um dos estudos do polímata – alguém que analisa mais de um objeto do conhecimento – italiano, Girolamo Cardano, que viveu no século XVI, nos anos 1501 a 1576, foi a surdez. Em suma, por meio de seus trabalhos nesta área, Cardano reconheceu que os surdos, apesar de não escutarem, tinham habilidades para a razão e a lógica, uma vez que, na época, a ideia contrária era a mais discutida. Hoje, depois de passados cinco séculos, essa ideia é ainda bastante clara e atual, visto que, cada vez mais, vemos surdos vivendo uma vida normal em sociedade, o que não tem nada de errado. A Profa. Dra. Gladis Perlin, que também estuda o tema da surdez, e é uma das mais reconhecidas especialistas brasileiras nesta área, propõe que existem sete tipos de identidades surdas.

Vamos ver cada uma delas?

Identidades surdas ou políticas

Devido à Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS, os surdos com a identidade surda ou política optam por estar junto a outros surdos e, assim, estabelecer uma convivência entre si. São indivíduos que não aceitam ser oralizados, bem como não têm interesse no método. Consequentemente, são surdos que frequentam associações, que veem-se inseridos na comunidade surda e que consomem conteúdos audiovisuais que tenham intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC).

Identidades surdas híbridas

Em virtude de algum problema de saúde, que tiveram em algum estágio de sua vida, como Rubéola – sobretudo nos três primeiros meses da gestação – Meningite, Otites, Caxumba – sobretudo nos três primeiros meses da gestação – e hereditariedade, os surdos com a identidade surda híbrida são indivíduos que nasceram ouvintes e tiveram a perda auditiva. A partir disto, eles começam a aprender a Língua Brasileira de Sinais e vão adentrando, progressivamente, na comunidade surda. Passam a frequentar associações e a utilizar serviços como os que oferecem os intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC).

Identidades surdas flutuantes

Por serem surdos oralizados e saberem falar e escrever, os indivíduos com a identidade surda flutuante não têm contato com a cultura surda, não interagem com outros surdos e não participam da comunidade surda. Ao invés disto, optam por adotar uma identidade ouvinte e estar com pessoas ouvintes dentro da mesma comunidade. Como consequência, não usam serviços de intérpretes/tradutores de LIBRAS e Closed Caption (CC).

Identidades surdas embaçadas

Infelizmente, por falta de orientação, que deveria ter vindo da família, os indivíduos com a identidade surda embaçada são surdos que não aprenderam a Língua Portuguesa nem a Língua Brasileira de Sinais, o que torna a comunicação um obstáculo para eles; tanto com ouvintes quanto com surdos. Na falta do português e da LIBRAS, eles acabam comunicando-se em mímicas. São pessoas surdas que não estão inseridas em nenhuma das comunidades. Resultando, assim, em dificuldades, que o indivíduo passa a enfrentar, ao tentar entrar em contato com a surdez na sociedade.

Identidades surdas de transição

Aqui, ocorrem várias mudanças ao longo do processo. Os indivíduos com a identidade surda de transição cresceram sendo integrantes da comunidade ouvinte, eles são oralizados. Até que, em determinado momento da vida, conhecem a comunidade surda e veem seus membros sinalizando por meio da LIBRAS, e sentem-se interessados em pertencer àquele grupo. Permanecem um tempo ali, mas não deixam o oralismo para trás por completo.

Identidades surdas de diáspora

Assim como existem diferenças entre as línguas que utilizam a fala, a Língua de Sinais também não é a mesma que a de outras regiões, outros estados ou/e outros países. Os indivíduos com a identidade surda de diáspora são surdos que costumam deslocar-se de outros lugares do mundo, do país e/ou de um grupo surdo a outro, estabelecendo, assim, contato com surdos de outras origens e que comunicam-se com uma Língua de Sinais que é distinta da sua, adquirindo, desta forma, maior bagagem cultural para seu repertório.

Identidades intermediárias

Os indivíduos com a identidade intermediária são surdos oralizados, que falam e escutam bem a Língua Portuguesa, e podem pertencer tanto na comunidade ouvinte quanto na comunidade surda, pois também sabem sinalizar com a Língua Brasileira de Sinais. Dependendo da maneira que desejarem, eles não consomem conteúdos audiovisuais que possuem intérpretes/tradutores de LIBRAS nem Closed Caption (CC).

Independente de qual identidade e cultura um surdo possa identificar-se, o respeito e a empatia continuam sendo as palavras-chave para que possamos construir uma sociedade mais inclusiva e acessível para todos. Entretanto, o senso de mudança deve partir de dentro de nós, para impactar, posteriormente, a vida em comunidade como um todo de modo positivo.

Sofia wu, 2021

Referências Bibliográficas

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• STROBEL, Karin. História da educação de surdos. Disponível em: https://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEducacaoDeSurdos/assets/258/TextoBase_HistoriaEducacaoSurdos.pdf. Acesso em: 01 set. 2021.

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• OLIVEIRA, Vinícius. Aulas 4 e 5 – Prática: Os parâmetros, Adjetivos e verbos em Libras.

Teoria: Mitos e verdades sobre a Libras e comunidade, 2021. 94 slides. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1gHnHAsloSqspLyIdJmFDvi1U8uQc1z2S/view. Acesso em: 01 set. 2021.

• SANTANA, Araceli Catieli Ferreira de. A Importância da Comunidade Surda, Identidade Surda e a Cultura Surda. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD1_SA11_ID3508_29062020120959.pdf. Acesso em: 01 set. 2021.

• PERLIN, Gladis. As diferentes identidades surdas. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/04/diferentes-identidades-surdas.pdf. Acesso em: 01 set. 2021.

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