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Torto arado: Inclusão, ancestralidade e debates sociais

Por Dimitrius Voliotis

Para dar início ao nosso mês especial de indicações, trazemos a sugestão do livro “Torto Arado”, do escritor brasileiro Itamar Vieira Junior. A obra de 2019 se passa no sertão da Chapada da Diamantina, retratando a história de famílias em condições análogas à escravidão, que trabalham em terras de grandes latifundiários. 

As principais personagens são Bibiana e Belonísia, irmãs de uma família respeitada pelos vizinhos na fazenda de Água Negra. A trama começa a partir de uma mala misteriosa guardada pela avó das jovens, Donana. Num momento de desatenção dos familiares, Bibiana e Belonísia abrem a mala e encontram uma faca com o punhal de marfim. Inocente e tentada pelo brilho emanando do metal, uma delas coloca o objeto na boca, que é retirado de forma impulsiva pela outra. 

Bibiana é quem narra o primeiro terço da história e não deixa claro qual das duas foi responsável pelas partes do acontecimento, o que só é revelado próximo ao fim do livro. O acidente fez com que uma das irmãs perdesse a língua, assim ocorre uma dependência para exercer a comunicação básica com todas as outras pessoas. 

A língua de sinais não é uma opção para as jovens, uma vez que só conseguem acesso a uma escola na fazenda depois de muita pressão. A maioria dos habitantes nem mesmo possui a leitura e escrita. Belonísia e Bibiana criam um vínculo ainda mais forte, que Itamar retrata de forma singela, destacando o ambiente desfavorável, explorando as nuances da vida das trabalhadoras rurais em condições precárias.

A dependência de Bibiana e Belonísia, por mais que elas não enfrentassem a situação como um fardo, traz contornos mais emocionais à separação das duas. Bibiana foge de Água Negra em busca de oportunidades e da realização de sonhos, que incluíam trazer uma vida digna aos familiares e moradores da fazenda e retornar como professora.

A obra de Itamar é cercada por um mistério, afinal não se sabe se Belonísia ou Bibiana perdeu a fala. Apesar disso, o leitor é levado a observar a apreciar a jornada de ambas, que se divide de uma maneira inimaginável para quem leu apenas os primeiros capítulos. A abordagem dada à deficiência é simples, sem tentativas de transformá-la em motivação, tanto para personagens do próprio enredo, como para quem acompanha de fora.

Além dos toques sutis sobre o tema, há um grande destaque para a luta das comunidades quilombolas, passando pela história de Donana, até Zéca Chapéu Grande e outros integrantes da família e da comunidade. Os debates sociais perpassam até mesmo os acontecimentos mais emocionais, não sendo um tema paralelo aos sentimentos e ações dos personagens, que são motivados a todo momento pela condição social em que se encontram.

Impossível deixar de mencionar a forte religiosidade presente desde as festas de jarê, até a narração da terceira parte do livro, feita pela encantada Santa Rita Pescadeira. A força das tradições sendo passadas de geração para geração e a influência que os encantados possuem na vida dos moradores de Água Negra realçam os aspectos da ancestralidade e formação do povo quilombola. Zeca Chapéu Grande e Salustiana, pais de Bibiana e Belonísia, tem um grande papel nisso. Ele por carregar os ensinamentos de Donana e ser o curador espiritual, e ela por assumir o posto de parteira, tarefa que também foi herdada de Donana.

Os debates e pontos a serem apreciados na obra se estendem e, para não revelar trechos importantes do enredo, deixo a quem se interessar para que leia, aproveite as reflexões propostas nas mais diversas frentes e se deixe levar pela história de Bibiana e Belonísia.

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