Influenciadores do Da Vida Real
Por Gabrielle Bonafé Imaginem uma influenciadora digital. Uma mulher segurando um batom e sorrindo para câmera. Imaginou? Essa pessoa era preta, gorda ou possuía alguma deficiência? Não? De acordo com os dados levantados pela Qualibest, 78% dos brasileiros seguem influenciadores em suas redes sociais e a maioria leva em consideração suas opiniões nas decisões do dia a dia. Entretanto, não há um dado sequer de quantos seguem influencers “fora do padrão”. No marketing, “influenciadores digitais” são todos e quaisquer pessoas capazes de fazer alguma diferença no mercado como, por exemplo, Cristiano Ronaldo que, ao recusar uma garrafinha de Coca-Cola em uma coletiva de imprensa, fez as ações da mesma despencaram no dia seguinte. Esse é o poder de um influencer, mover multidões, seja para o bem ou mal. Cacai Bauer é a primeira influencer com síndrome de Down do mundo, tendo mais de 370 mil seguidores no seu perfil do Instagram. Cacai apareceu pela primeira vez na TV em um episódio de Supernanny com sua família e desde então se apaixonou pelas telinhas e quis seguir a carreira de atriz. Não foi fácil, mas quando Cacai começou a postar vídeos sobre sua rotina no Reels e no TikTok, as pessoas começaram a perceber que a mulher não era nada mais, nada menos, que uma mulher, como qualquer outra. A síndrome nunca foi um empecilho para a influenciadora, mas o preconceito com ela sim. No Brasil, a cada 700 nascimentos, 1 tem síndrome de Down. Não é um dado exato, mas há, provavelmente, 270 mil pessoas com a deficiência no país. De acordo com o site Movimento Down, “as pessoas com síndrome de Down têm muito mais em comum com o resto da população do que diferenças.” Então por que ainda vemos tão poucas no mercado de trabalho? Cacai abriu a porta para que diversas outras mulheres começassem a se aventurar no mundo das blogueiras e, hoje, conseguem viver exclusivamente do mundo online. Às vezes, tudo que precisamos fazer é quebrar as barreiras do pré-conceito e enxergar o mundo como ele é: cheio de pessoas, mas cada uma perfeita do jeito que é.
Tabata Contri: representatividade no teatro e nas redes sociais
Por Yasmim Verdadeiro Augusto Há mais de 8 anos, Tabata Contri usa de seu perfil pessoal no Instagram para inspirar acessibilidade através do compartilhamento de suas experiências diárias como cadeirante. Mãe, comunicadora, consultora de inclusão e atriz, busca criar consciência em mais de seus 11 mil seguidores de como a inclusão é uma oportunidade para que as pessoas tenham independência, autonomia e liberdade. A paulistana de 40 anos, filha mais velha de Dona Eliane, desde sempre fez da independência um lema de sua vida. “Eu comecei a trabalhar aos 15 anos, porque eu queria ter minhas coisas, comprar minhas coisas. Eu fui trabalhar em uma loja de shopping, trabalhava de domingo a domingo. E foi assim dos 15 aos 20 anos, até eu sofrer o acidente de carro que me deixou paraplégica”. Tabata sofreu um acidente no dia 31 de dezembro de 2000. “Eu estava no banco de trás, sem cinto e o carro que eu estava aquaplanou na pista, na Carvalho Pinto, sentido Litoral Norte e eu quebrei a coluna. Fiquei paraplégica: tive lesão medular nível T12L1L2.” Devido ao acidente, Tabata passou por diversos procedimentos médicos. Durante 4 meses, ficou internada em Caçapava (SP), onde realizou cirurgia de coluna. Contudo, desenvolveu uma úlcera por pressão (escara) e, devido a isso, foi transferida para o Hospital São Paulo, onde realizou cirurgia para fechar a escara. E, por fim, com 7 meses de lesão, foi para a Rede SARAH (Brasília), onde realizou reabilitação e refez sua cirurgia de coluna. “Fiz a 3° cirurgia no ano lá no SARAH, em agosto de 2001. E frequentei o SARAH por 11 anos seguidos todo ano, às vezes mais de uma vez por ano, em Brasília”. E foi exatamente na reabilitação do SARAH que Tabata conheceu Carol, uma das pessoas que mudou sua vida. “Nós duas éramos de São Paulo, da Zona Norte: eu tinha 20 anos, ela tinha 22; foi inevitável a gente ficar amigas. E a Carol conhecia a família do Oswaldo Montenegro e o Deto Montenegro, que é diretor da Oficina dos Menestréis”. Em 2003, então, Deto queria fazer uma experiência com cadeirantes, com objetivo de ver o visual das rodas no palco e pediu para que Carol levasse uma amiga para uma aula experimental. Resultado: despretensiosamente, Tabata foi e acabou gostando da experiência. Já nesse mesmo ano, a Oficina dos Menestréis montou a peça Good Morning São Paulo – na qual Tabata atuou – marcada pela interação entre pessoas sem deficiência e cadeirantes. Paralelamente, a Oficina realizou o Projeto Cadeirantes só com cadeirantes e montou o Noturno Cadeirantes, de Oswaldo Montenegro, que estreou em dezembro de 2003 – também com atuação de Tabata. Desde então, esse projeto foi remontado todos os anos, até 2019. “Foi muito legal, porque ao mesmo tempo que a gente estava aprendendo a andar na cadeira de rodas, a gente tinha 8 segundos pra sair do palco, pra entrar no palco, a gente estava aprendendo a entrar no palco também”. E foi assim que Tabata começou a fazer teatro e se apaixonou pela área. Além das peças na Oficina dos Menestréis, ela fez diversos cursos: Musical para Teatro do SENAC, Escola de Atores de WolfMaya, aulas de dança e aulas de canto. Por fim, Tabata tirou sua DRT (Delegacia Regional de Trabalho) de atriz em 2008. Isso alavancou sua carreira e a levou, no mesmo ano, a atuar como Joana em 10 capítulos da novela Água na Boca, veiculada na emissora Band e dirigida por Del Rangel. 2 anos depois, Tabata fez uma cena com Lilia Cabral na novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, transmitida pela emissora Globo. Tudo isso consolidou sua imagem como a primeira cadeirante a atuar em novelas no Brasil! “Eu sou grata pela oportunidade, mas sinto por não ver mais atores e atrizes com deficiência atuando em teatro, também em cinema. Sinto também por não ter tido outras oportunidades.” Além disso, apesar de ser uma profissional de referência para diversas pessoas, Tabata enfrentou diversas dificuldades no caminho. “Bom, a carreira de atriz é desafiadora para qualquer pessoa. Com o perfil cadeirante, ainda mais. Então, meus amigos faziam muito mais testes e pegavam muito mais trabalhos do que eu. Certamente a deficiência tinha um impacto nisso. Às vezes, eu nem falava que eu era cadeirante para poder ir ao teste e fazer o teste, se não fosse assim eu não trabalhava. Mas ficou insustentável, eu não conseguia pagar minhas contas só como atriz.” Em razão disso, atualmente Tabata também investe em sua carreira como consultora de inclusão na Talento Incluir (empresa fundada por sua amiga Carol), com foco na inclusão de profissionais com deficiência no mercado de trabalho. “Eu desenvolvo programas de inclusão que vão desde treinamentos, palestras conscientes e ações que fazem com que a gente quebre alguns vieses inconscientes dos líderes e da população interna. Também fazemos o processo de recrutamento e seleção. Então, toda vez que a gente inclui uma pessoa com deficiência no trabalho, a gente transforma uma vida e já se foram mais de 7000 vidas transformadas.” E toda essa jornada de Tabata foi acompanhada pela vontade de falar sobre a visibilidade da pessoa com deficiência nos meios digitais. Já em 2003, Tabata escrevia em seu blog, o tocandoasrodas.blogger, e chegou até mesmo a ser capa da revista da Folha. No entanto, essa escrita foi perdendo espaço para o cotidiano do trabalho e, com o tempo, o Instagram foi tomando seu lugar. Atuando ativamente desde 2015 nessa rede social, por lá Tabata troca experiências e vivências como mãe e cadeirante, divulga seus trabalhos, produtos e serviços atrelados a sua imagem. Além disso, em suas postagens, Tabata sempre busca trazer mais visibilidade para o aspecto da inclusão na sociedade. “Minha geração tem que botar a cara a tapa pra ser vista, para a padaria fazer a rampa. A acessibilidade arquitetônica ainda é uma questão, mas as barreiras atitudinais ainda excluem mais do que a falta de um elevador. A acessibilidade comunicacional também é essencial para que todas as