Por: Jefferson Henrique
Todas as imagens desse artigo possuem texto alternativo com a audiodescrição resumida (#pracegover).
Atualmente, associamos o termo inclusão apenas a pessoas com deficiência. Podemos, assim, listar ferramentas inclusivas que permitem a interação social. Por exemplo, a LIBRAS que, além de ser a língua-mãe para surdos, permite a interação social com o outro, seja com um deficiente auditivo, seja com um ouvinte que tenha a LIBRAS como segunda língua.
A audiodescrição é outro exemplo de ferramenta inclusiva, mas destinada, principalmente, às pessoas com deficiência visual, pois tem como objetivo a adaptação da imagem visual em conteúdo verbal. E o recurso de legendas Closed Caption, que auxilia a pessoa com deficiência auditiva a acompanhar um programa sonoro pela transcrição do som em palavras. Porém, o que dizer da arte de traduzir? Será que tradução também se encaixa como inclusão? Se sim, por quê?
Podemos pensar na etimologia da palavra INCLUSÃO. Do latim INCLUDERE, tem na sua composição a palavra CLAUDERE, que significa “fechar”, e o prefixo IN, que significa “em”. A grosso modo, inclusão é o mesmo que colocar dentro algo que esteja fora. Como já mencionado, o termo “inclusão” é associado atualmente a pessoas com deficiência e suas interações sociais, mas a verdade é que há “inclusão” desde o início da humanidade. Qual seria a vantagem de descobrir o fogo sozinho? É preciso que o papai pré-histórico explique para sua família, sobreviventes num mundo dominado por criaturas maiores e mais fortes, que o fogo pode espantar essas criaturas, pode inclusive matá-las, mas que também é uma coisa perigosa para eles próprios.
É aí que entra a tradução, a arte de traduzir. Conhecemos amplamente o trabalho da tradução pelos inúmeros textos e livros traduzidos no século XXI, pela larga escala de séries traduzidas – majoritariamente, do inglês -, de jogos, de músicas, de tudo e mais um pouco do que acontece no mundo. Graças à tradução, podemos saber que, diferentemente do Brasil, estadunidenses podem tirar carteira de habilitação aos 16 anos, já que é mostrado em livros best-sellers e séries americanas. Graças à tradução, conseguimos saber o que Xi Jinping diz sobre Donald Trump em todo conflito China-EUA. Graças à tradução, conseguimos entender To be or not to be, that is the question sem que precisemos aprender inglês, basta lermos Hamlet traduzido para o português que Ser ou Não Ser será A Questão.
Wagner Moura no papel de príncipe Hamlet em 2008
Contudo, para se ter uma tradução, precisa-se de um tradutor, um profissional que nem sempre foi visto com bons olhos ao longo da história. Inúmeras discussões perduraram por séculos acerca do traduttore traditore (expressão acusatória, de origem italiana, para “tradutor traidor”, como alguém que ao traduzir “trai” o real significado e a real intenção do autor) e também da belles infidèles (“as belas infiéis”, isto é, se uma tradução é bela, não é fiel; se é fiel, não é bela).
Apesar disso, há também as honras gloriosas que os tradutores já receberam na história, como por exemplo Jerônimo de Estridão, tradutor da bíblia, das línguas hebraico e grego para o latim. Ele, com o seu trabalho tradutório que tanto contribuiu para a fé cristã a ponto de ser considerado um santo, conseguiu incluir os povos romanos da época na sagrada palavra de Deus, palavras essas que foram escritas pelos evangelistas antes e depois de Cristo.
Como podemos ver, traduzir é incluir. Mesmo que se tenha um amplo debate sobre “essência textual”, “ideia original do autor”, “tradução fiel”, há de se concordar que realizar um ato tradutório é realizar a inclusão de mais e mais pessoas destinadas a compartilhar da sua ideia, da sua vivência, da sua cultura.
E você? É tradutor? Pensa em estudar tradução? Deixa aí um comentário!