Por Yasmim Verdadeiro Augusto
Todas as imagens desse artigo possuem texto alternativo com a audiodescrição resumida (#pracegover).
Associada ao poder místico de cura, a água sempre foi um elemento muito apreciado por diversas culturas desde a Antiguidade. Hoje não é diferente: com o passar dos anos, diversos benefícios foram comprovados em relação ao seu uso com fins terapêuticos e medicinais, o que fortaleceu o surgimento e desenvolvimento da fisioterapia aquática, também denominada de hidroterapia.
Além de ser uma prática que promove a melhoria da saúde das pessoas, também possibilita a inserção social, já que não as limita por suas capacidades, pelo que podem ou não fazer em solo, mas abre um novo horizonte para uma infinidade de possibilidades. Assim, essas práticas ajudam na melhoria da saúde social, emocional, física e psicológica dos indivíduos que, além de relaxarem, alcançam uma melhor qualidade de vida.
O surgimento da fisioterapia aquática como atividade terapêutica é desconhecido, mas existem registros que evidenciam que os egípcios, assírios e muçulmanos usavam a água com finalidade de cura desde antes de 2400 a.C.; os hindus combatiam a febre com esse elemento desde 1500 a.C.; e os chineses e japoneses apreciavam os benefícios proporcionados pela água corrente e banho de imersão. Mas foi somente em 500 a.C. que os gregos abandonaram a visão mística da água e começaram a adotar uma perspectiva científica, tratando-se com esse líquido por meio de banhos de imersão e, assim, estabelecendo uma relação estrita entre os benefícios que causava para o corpo e para a mente.
Esse olhar científico só foi adotado no Brasil em 1922, na Santa Casa do Rio de Janeiro. A entrada principal do hospital era banhada pelo mar e diversos pacientes internados realizavam banhos de mar, e isso trazia resultados positivos para o tratamento.
Mas, afinal de contas, o que é fisioterapia aquática?
É uma atividade composta de exercícios terapêuticos realizados em piscina aquecida (entre 33 e 36°C). Tem o objetivo de tratar diversos tipos de patologias ortopédicas, reumatológicas, oncológicas, neurológicas, cardiorrespiratórias, desportivas, geriátricas e pediátricas, ou seja, utiliza os benefícios e efeitos físicos e fisiológicos da água no processo de reabilitação. Entretanto, também atua como um processo preventivo, já que promove e mantém a saúde, além de tratar e reabilitar alterações funcionais que o paciente venha a ter.
Mesmo que a hidroterapia se assemelhe e nos remeta, muitas vezes, à hidroginástica, estas são atividades distintas. Apesar de ambas serem feitas em água aquecida, a hidroginástica é um exercício físico realizado com intensidade moderada, de forma constante e orientado por educadores físicos, enquanto que a hidroterapia é uma prática fisioterapêutica que utiliza dos benefícios da água na prevenção e tratamento de patologias, sendo realizada com um fisioterapeuta.
A fisioterapia aquática pode ser feita por pessoas de todas as idades, mas é especialmente indicada para pacientes que apresentem alguns sintomas específicos, como:
- Elevado nível de dor;
- Edema de extremidades;
- Alterações da marcha (quando o paciente não consegue andar em linha reta);
- Diminuição da mobilidade;
- Fraqueza muscular;
- Contraturas musculares;
- Impossibilidade de sobrecarga nos membros inferiores;
- Resistência cardiovascular e respiratória diminuída;
- Diminuição da flexibilidade e mobilidade articular;
- Habilidades diminuídas;
- Dificuldade de interação social;
- Alterações posturais;
- Estresse;
- Distúrbios do sono;
- Comprometimento do equilíbrio corporal.
A fisioterapia aquática é uma atividade que possui poucas contraindicações, não sendo indicada para pessoas com doenças infectocontagiosas (como cólera e tifo), que apresentem febre a partir dos 38 graus, que tenham medo de água, que sejam alérgicas ao cloro, que possuam lesões na pele ou, ainda, pacientes com histórico de epilepsia ou insuficiência cardíaca.
No entanto, a hidroterapia apresenta diversos benefícios, cientificamente comprovados, relacionados ao princípio de imersão, que provoca alterações fisiológicas nas propriedades físicas da água relacionadas a pressão hidrostática, flutuação, densidade relativa e temperatura. Dentre os benefícios proporcionados pela hidroterapia, os mais evidentes:
- Facilita os movimentos articulares com a redução da força gravitacional;
- Promove o relaxamento muscular;
- Reduz a sensibilidade à dor;
- Minimiza espasmos musculares;
- Melhora a circulação periférica;
- Melhora a consciência corporal;
- Aumenta o gasto enérgico com exercícios aeróbios;
- Reduz edemas;
- Melhora a musculatura respiratória;
- Melhora a autoconfiança;
- Facilita a marcha;
- Melhora equilíbrio, locomoção e coordenação.
Segundo a Dra. Samira Tatiyama Miyamoto, fisioterapeuta com especialização em reumatologia e reabilitação, atuante nas áreas de qualidade de vida, fisioterapia, hidroterapia e reumatologia, ela afirma que na fisioterapia aquática, “devido às propriedades físicas da água, há menor sobrecarga sobre as articulações e também pode ser mais fácil andar e realizar os movimentos. No entanto, dependendo do equipamento utilizado e da técnica empregada, é possível fortalecer os músculos, melhorar o equilíbrio, a coordenação, o condicionamento cardiorrespiratório e até a postura. Além disso, dependendo da temperatura da água e da profundidade da piscina pode haver redução da dor e do edema (inchaço)”.
Portanto, todos esses benefícios são alcançados porque a água morna proporciona conforto ao paciente, o que favorece a amplitude de seus movimentos, além de que facilita as atividades por serem capazes de suportar o peso do corpo.
Ademais, uma das maiores vantagens dessa modalidade terapêutica é que ela pode ser praticada por todas as faixas etárias, trazendo benefícios para todas elas. Nas grávidas, por exemplo, a fisioterapia aquática melhora a circulação sanguínea e a respiração, fortalece e relaxa os músculos, diminui a perda de urina involuntária e alivia as tensões ocasionadas pela mudança postural. Já nos idosos, a atividade ajuda na perda de peso, reeducação postural, flexibilidade, equilíbrio, coordenação motora e sensação de prazer. Doenças associadas ao envelhecimento, como osteoporose, Parkinson, artrite, entre outras, também são tratadas por meio da hidroterapia.
E, por fim, adultos e crianças com deficiência física ou mental podem usufruir da fisioterapia aquática com fins psicológicos, pois a água proporciona benefícios que favorecem a autoestima e a sensação de bem estar.
E como realizar a hidroterapia? Não é simplesmente entrar na água aquecida e começar a se exercitar, mas além do acompanhamento de um fisioterapeuta capacitado e autorizado pela Associação Brasileira de Fisioterapia Aquática, essa prática terapêutica deve ser realizada a partir de uma técnica que alcance resultados específicos. Dentre as técnicas empregadas estão:
- Método Halliwick: proporciona equilíbrio e adaptação no meio aquático, incentivando a independência das pessoas com deficiência através de suas habilidades em meio líquido e não de suas dificuldades em solo. Apresenta filosofia recreativa e é dividido em 4 estágios: ajuste mental (adaptação para entrar na água e se acostumar ao ambiente), controle de equilíbrio (melhora mobilidade e estabilidade da coluna vertebral), inibição (equilíbrio estático, sem movimentos amplos de extremidades) e facilitação (paciente desliza na superfície da água realizando flexo-extensão contínua dos punhos submersos simetricamente e junto dos quadris);
- Método Bad Ragaz: promove o fortalecimento muscular, alongando a coluna vertebral e relaxando o músculo. É caracterizado por sua versatilidade, de modo que atende a pacientes com problemas neurológicos, ortopédicos e reumatológicos;
- Método Watsu: ajuda no relaxamento global. É composto de movimentos sequenciais e contínuos com emprego de alongamentos e movimentos do zen shiatsu. A filosofia do método afirma que na água o corpo encontra a liberdade perdida pela alma;
- Método Aquadinamic: causa relaxamento físico e mental que utiliza da meditação e descontração, o que ajuda o paciente a se conectar melhor com seu corpo e mente;
- Water Pilates: provoca redução na tensão muscular se baseando no princípio do alongamento.
Para auxiliar na realização da terapia e alcançar a sua eficiência máxima, diversos equipamentos são empregados, dentre eles: corrimões fixos, jatos de água, macarrão de polietileno, arcos com peso para exercícios aquáticos, prancha de piscina, bolas, halteres e turbilhão. No geral, esses instrumentos auxiliam no aprimoramento da saúde do paciente em relação à conquista, ao aumento e à melhora de seu fortalecimento muscular, resistência, agilidade, velocidade, coordenação motora e reflexos, além de promover o alívio de dor.
Diante de tantos métodos e equipamentos, como escolher o mais adequado em uma sessão? Isso deve sempre ser acordado entre o fisioterapeuta e o paciente conforme suas necessidades e possibilidades de movimento.
A fisioterapia aquática está sendo cada vez mais procurada para auxiliar pessoas portadoras de patologias específicas, sendo uma alternativa que proporciona saúde concomitantemente com que os pacientes abrem mão do uso contínuo de diversos medicamentos que são orientados a tomar.
Apesar de ser um tratamento efetivo, proporciona mudanças e melhoras gradativas no paciente, de modo que possibilita a realização de exercícios de várias naturezas (aquecimento, alongamento, relaxamento) que são capazes de beneficiar pessoas de todas as faixas etárias e das mais variadas características físicas e psicológicas.
Além de ser uma prática terapêutica que ajuda na promoção da qualidade de vida, também auxilia na inserção social de pessoas que até então eram discriminadas e vistas como “limitadas” devido às suas capacidades reduzidas. Logo, a hidroterapia faz com que pessoas com patologias específicas não duvidem de suas capacidades simultaneamente com que desenvolvem o corpo, a mente e o espírito, buscando um equilíbrio que resulta no bem estar físico e social.
Referências:
ASSESSOCOR. Você já ouviu falar em fisioterapia aquática? Disponível em: http://www.assessocor.com.br/Noticia/5715/VOCE-JA-OUVIU-FALAR-EM-FISIOTERAPIA-AQUATICA.aspx. Acesso em: 22 abr. 2020.
CARCI. Hidroterapia: entenda o que é e quais equipamentos são utilizados. entenda o que é e quais equipamentos são utilizados. Disponível em: https://blog.carcioficial.com.br/hidroterapia-e-seus-equipamentos/. Acesso em: 23 abr. 2020.
EDUCAÇÃO, Portal. História da Hidroterapia. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/farmacia/historia-da-hidroterapia/53543. Acesso em: 23 abr. 2020.
EINSTEIN, Sociedade Benificente Israelita Brasileira Albert. Fisioterapia aquática: centro de reabilitação. Centro de reabilitação. Disponível em: https://www.einstein.br/estrutura/centro-reabilitacao/especialidades/fisioterapia/fisioterapia-aquatica. Acesso em: 23 abr. 2020.
FISIOTERAPIA, Central da. OS BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA. Disponível em: https://www.centraldafisioterapia.com.br/dicas-de-saude/os-beneficios-da-fisioterapia-aquatica. Acesso em: 23 abr. 2020.
REGIÃO, Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 15ª. Fisioterapia aquática: prevenção e reabilitação através da água. prevenção e reabilitação através da água. Disponível em: http://www.crefito15.org.br/fisioterapia-aquatica-prevencao-e-reabilitacao-atraves-da-agua/. Acesso em: 23 abr. 2020.
ROQUE, Marcelo. Fisioterapia Aquática: uma abordagem. uma abordagem. Disponível em: http://acquabrasil.org/fisioterapia-aquatica-uma-abordagem-global-em-busca-da-qualidade-de-vida/. Acesso em: 23 abr. 2020
Muito interessante o texto, parabéns!
For my thesis, I consulted a lot of information, read your article made me feel a lot, benefited me a lot from it, thank you for your help. Thanks!